Neste concelho respira-se história, cultura, tradições, orgulho e, sobretudo, coragem.
Entre as serranias da Póvoa de Lanhoso, há um tesouro de história e autenticidade e os costumes rurais entrelaçam-se com a vitalidade urbana. O Guia ComUM, em janeiro, explora uma região que equilibra serenidade e legado cultural, descobrindo o encanto discreto deste concelho.
Castelo de Lanhoso
Assente no maior monólito granítico da Península Ibérica – Monte do Pilar –, o Castelo de Lanhoso é um dos principais monumentos da região. Remonta ao século X e foi considerado Monumento Nacional em 1910.
A sua estrutura original admitia dois espaços: um recinto definido por uma muralha periférica, que delimitava o afloramento, e uma alcáçova dotada de três torres equidistantes. A tradição refere que foi neste local inalcançável que se refugiou, por duas vezes, a condessa portucalense D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques. A primeira vez, em 1120, aquando das disputas de poder com D. Urraca, sua irmã. Já a segunda, teria sido após a Batalha de S. Mamede, em 1128, quando o filho a “prendeu” naquele espaço.
Mais tarde, com D. Dinis, as três torres foram demolidas e ergueu-se a torre de menagem que prevalece, tendo sido posteriormente abandonado no século XV. No século XVII, a sua ruína acelerou, sobretudo com a construção do Santuário de Nossa Senhora do Pilar.
Entre 1938 e 1940 foi objeto de um profundo restauro e, quando se abriu a estrada de acesso, descobriram-se vestígios de um importante povoado castrejo romanizado com ocupação até aos tempos suevos (primeiro milénio a.C.). Algumas destas estruturas circulares e retangulares (castros) sofreram, em 2001, intervenções por parte da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso.
Igreja Matriz de Fontarcada
O mosteiro beneditino do Divino Salvador de Fontarcada foi fundado no séc. XII, devendo a atual igreja românica datar de meados do séc. XIII. O mosteiro foi extinto em 1455 e a igreja reduzida a secular.
A fachada da igreja apresenta um portal de três arquivoltas. No seu interior, é coberta por um teto de madeira, sobre uma única nave. A capela-mor apresenta vestígios de frescos medievais, estando decorada com cinco arcadas pré-românicas, apoiadas em colunas.
Santuário de Nossa Senhora de Porto d’Ave
O Santuário de Nossa Senhora de Porto d’ Ave (ou do Porto de Ave) é um complexo religioso constituído por uma igreja, que engloba um museu de arte sacra popular e uma Via Sacra, com capelas dedicadas a episódios da vida da Virgem Maria e vários edifícios, originalmente de apoio aos peregrinos. Situa-se na freguesia de Taíde e foi construído no séc. XVIII.
Em 1732, foi criada a Confraria de Nossa Senhora do Porto de Ave e construída uma capela. A pequena ermida transformou-se num grande santuário de elevada riqueza patrimonial e religiosa que, associado ao volume de visitantes, é um dos primeiros santuários marianos de Portugal classificado como Conjunto de Interesse Público. Por Carta Régia, emitida a 14 de abril de 1874, foi elevado à categoria de Santuário Real.
Romaria de Porto d’Ave
A Romaria de Nossa Senhora de Porto d’Ave é uma das maiores e mais típicas romarias do Minho, sendo o registo mais antigo de 1835. Aliando o profano e o religioso, apresenta, todos os anos, propostas para todas as faixas etárias, mantendo vivos os costumes e tradições.
Na sua componente religiosa, a Romaria começa com celebrações e novenas no domingo que antecede o Dia da Senhora de Porto d’Ave. Na sexta-feira seguinte ocorre a procissão de velas, seguida pela majestosa procissão no domingo, após a Celebração Eucarística matinal.
A parte profana da Romaria começa no fim-de-semana anterior ao dia da festa, com o Festival de Folclore. Embora haja festejos durante toda a semana, o destaque vai para a feira gastronómica, que dura quatro dias. Trata-se de uma das originalidades desta romaria, na qual o visitante escolhe o seu bife de carne barrosã no talho (instalado no terreiro) e leva-o a uma tasquinha à sua escolha para cozinhar. Por fim, a sobremesa é o tradicional melão casca de carvalho. Esta tradição dos bifes é tão antiga quanto a romaria, o que faz com que o prato “Bife à romaria” seja um dos pratos típicos da Póvoa de Lanhoso.
A partir de 2010, começou a realizar-se a Noite Gerações, agora Diver Noite Gerações, com o apoio do Município. Há atuações musicais para todas as gerações, com artistas nacionalmente conhecidos. Dada a dimensão que alcançou, a organização recebe público proveniente de todo o país, pelo que proporciona campismo (gratuito) a quem o desejar.
Festas de São José
A Feira Franca de São José, a 19 de março, dia do Feriado Municipal, foi instituída em 1895 e tem uma dimensão local muito significativa. Da primeira festa até hoje existem tradições que ainda se mantêm: para além da feira, do concurso pecuário e das corridas de cavalos, a música também continua presente. Atualmente, para além das várias atuações ao longo da semana antecedente à festa, são a Banda de Música dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso e a Banda Musical de Calvos, que animam a Majestosa Procissão e a tarde.
A gastronomia local e regional é uma das referências nesta altura, destacando-se o “Cabrito à S. José”, presente em todos os cardápios neste período. Outros momentos igualmente relevantes: o Festival Folclórico, no qual participam os 7 grupos folclóricos do concelho; o Cortejo Histórico e Etnográfico, que envolve as freguesias e instituições/associações, ilustrando civilizações, factos e acontecimentos que marcaram a Humanidade; e a sessão de fogo-de-artifício.
Maria da Fonte
Em 1846, em Fonte Arcada, teve início a Revolução da Maria da Fonte contra o governo presidido por António Costa Cabral, que foi protagonizada por centenas de mulheres do concelho da Póvoa de Lanhoso. Para pôr em causa o exercício das novas autoridades liberais, utilizaram como pretexto a contestação das “Leis da Saúde”. Os confrontos foram replicados por todo o Minho, estendendo-se rapidamente pelo país. A Revolução culminou com a demissão do Governo da nação.
A Maria da Fonte – “mulher heroína” e líder da Revolução – tornou-se, ao longo dos anos, no maior símbolo da luta por justiça e igualdade em Portugal. O segundo Hino da Nação tem o seu nome. Foi-lhe dedicada a primeira estátua em 1920, em Lisboa, na evocação do centenário da Revolução Liberal. Já na vila da Póvoa de Lanhoso, foi erguida uma estátua em 1978, recolocada, em 29 de maio de 2022, junto à Igreja Românica de Fontarcada, local onde teve início a Revolução, mantendo, contudo, uma réplica no centro desta vila. Com o intuito de assinalar a passagem dos 170 anos da Revolução da Maria da Fonte, foi inaugurado, também em Póvoa de Lanhoso, o Centro Interpretativo Maria da Fonte.
Filigrana
A filigrana é uma técnica ancestral de ourivesaria que se baseia no trabalho manual. Utilizam-se fios extremamente finos de ouro ou prata que são torcidos e aplicados, com a ajuda de pinças, numa estrutura desenhada e criada pelo próprio mestre filigraneiro.
Através desta técnica, que perdura desde o primeiro milénio A.C., a ourivesaria povoense tornou-se conhecida internacionalmente. Ao longo dos séculos, esta tradição foi-se reinventando, resultando na criação de verdadeiras obras de arte nas oficinas tradicionais (localizadas principalmente nas freguesias de Travassos e Sobradelo da Goma), que exibem a rica herança da filigrana.
Esta arte evidencia um longo e aprimorado percurso, refletindo-se na criação de exuberantes joias de arte sacra ou nos característicos corações, que ornamentam e abrilhantam a mulher minhota. A filigrana da Póvoa de Lanhoso foi recentemente incluída no inventário nacional de Património Cultural Imaterial, com a Certificação da Filigrana. Atualmente, existem nove empresas povoenses certificadas, que mantêm viva esta técnica de ourivesaria milenar transmitida ao longo de várias gerações. O Museu do Ouro, em Travassos, e a Sala de Interpretação da Filigrana, integrada no edifício da Casa da Botica, valorizam e perpetuam esta valiosa e peculiar forma de trabalhar o ouro.