Foi lançado a 13 de outubro de 2023 o mais recente álbum da fadista Sara Correia, Liberdade. Coincidência ou não com a data, o disco tem, também, 13 faixas.

Contribuíram para este projeto artistas como Carolina Deslandes, Pedro Abrunhosa, Carminho e Tiago Bettencourt na composição e produção. A fadista Maria da Nazaré participou como intérprete na sétima faixa, “Tu Não Me Digas”. O álbum inclui ainda uma nova interpretação da canção “Balada Do Outono”, de Zeca Afonso.

BLITZ | Rita Carmo

De acordo com a própria cantora, este é o álbum em que mais homenageou as suas raízes e onde se sentiu mais fadista, ao explorar novas sonoridades, mantendo sempre a tradição. Tal ficou muito bem confirmado, quando em julho foi lançado o primeiro cheirinho do projeto, o single “Chelas”.

O disco é uma experiência imersiva e cativante, logo desde a primeira canção, “Madrugou”. Um dos principais porquês é a própria voz da artista. Sara Correia deve ter das melhores, senão a melhor voz feminina portuguesa da atualidade. Tem um timbre impactante e forte. A fadista consegue expressar uma imensa emoção ao cantar, chega a arrepiar.

Outro fator é a instrumentalização, fortemente feita à base de guitarras, incluindo a tão tradicional guitarra portuguesa. No entanto, foram acrescentados, aqui e ali, outros instrumentos. Outras peculiaridades na produção (efeitos como o barulho da água e ecos) estão também presentes nas faixas. Tudo isto culmina num instrumental comovente, que enfatiza ainda mais o papel emotivo da voz da artista.

Quanto às letras, em Liberdade foi respeitada a poesia tradicional do fado. O lamentar de um amor complicado, a simbologia do mar como algo belo, porém perigoso, o uso de metáforas para realçar a dor de viver e a inevitabilidade da morte são os típicos temas homenageados no disco.

Aliás, existe uma peculiaridade interessante entre o título e a letra do segundo tema, que dá nome ao álbum. Nesta faixa, canta-se a liberdade numa perspectiva um tanto negativa e melancólica. É apresentada a verdade de que não é possível largar certas amarras do passado.

O lado leve e claro da liberdade só é apresentado mais à frente, e atinge o seu pico no tema final. “Ser Rebelde” representa a liberdade com toda a sua beleza e formosura, numa canção que quase parece ser de embalar.

Sara Correia conseguiu continuar com o legado e a qualidade que mostrou em projetos anteriores, como em “Do Coração”. Por sinal, chega até a ultrapassá-los um pouco. A artista realmente estava a falar a sério quando jurou que nunca se sentiu tão fadista quanto em Liberdade. É notória a excelência das composições destes fados.

No entanto, parte da promessa não foi cumprida. Foi dito que seriam exploradas outras sonoridades com as quais a artista cresceu, como pop e hip hop. Havia expectativas para que fosse apresentado algo diferente de tudo o resto que Sara Correia já lançou. Enquanto se escuta Liberdade, fica-se até com a impressão de que, depois do tema “Tu Não Me Digas”, que está exatamente a meio do alinhamento do disco, ocorreria uma mudança no estilo das canções.

Tal mudança não ocorreu. “Chelas” é a única canção em que peculiaridades destes sons modernos estão mais presentes. Com isto não se quer dizer que, noutros temas ao longo do álbum, estas características não estejam presentes. Simplesmente passam um pouco despercebidas, não é nada de muito explícito.

“Chelas” é um hit excelente, super merecedor de ser dos temas mais conhecidos da artista. Porém existem faixas em Liberdade que, como canções em si, são tão boas quanto o single – no entanto, poderão não receber o devido mérito.

Houve certas alturas em que parecia que seria um dez de dez, mas, devido ao problema acabado de se explicar, este disco, com muito pesar, trata-se de um oito. Recomenda-se ouvir Liberdade com o mínimo de pausas possíveis. Imagine-se como se estivesse numa casa de fados e disfrute, caro leitor.