É um tanto irónico que numa crítica sobre a banda sonora de Mean Girls (2024) se esteja a ser tão mean. Esta OST prometia ser interessante. Bem, por acaso, até que o foi. No mau sentido.

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Indo diretamente ao ponto, a banda sonora deste filme é medíocre.

Todas as canções usadas, com a excepção de What Ifs e Not My Fault, vieram da peça de teatro de mesmo nome, estreada em 2017. No entanto, foram feitas alterações de maneira a que pudessem soar mais pop e atuais. Isto resultou numa perda de dinamismo e exuberância na maior parte das faixas. Esta banda sonora não tem brio, nem brilho!

A título de exemplo, a canção Stupid With Love, um dos pontos importantes da história, ao ser escutada não cria impacto nenhum no ouvinte, à conta das ditas mudanças. Esta faixa, simplesmente, não tem vigor nenhum, parece “estar adormecida”.

O mesmo ocorreu com o instrumental de World Burn, que é nada mais nada menos do que o tema clímax da trama do filme. Bem, para clímax falta-lhe muita energia. E a culpa disto não é, de todo, dos intérpretes.

Reneé Rapp é uma Regina George perfeita. A sua voz foi a grande salvadora do solo World Burn. É notório o quanto a sua voz amadureceu desde a última vez que interpretou a personagem. Sim, Reneé já foi Regina. Na Broadway! O que não lhe falta é habilidade para entrar na personagem.

A escolha da Auli’i Cravalho como Janis foi muito bem feita. Auli’i, através da sua voz, explorou maravilhosamente um lado mais punk da personagem.

Uma performance vocal que surpreendeu foi a de Avantika Vandanapu, intérprete da personagem Karen. A entrega de Avantika conseguiu com que Sexy, uma canção filler cómica, se tornasse numa das melhores de todo o álbum. A sua voz consegue transmitir a energia caótica que a música e o filme exigem.

Um aspeto que entristece um tanto é a direção adotada quanto à atuação vocal de Angourie Rice, a atriz por de trás da protagonista Cady Heron. Ao longo de quase toda a banda sonora, Rice apresenta uma voz suave transmissora de uma imensa vulnerabilidade e fragilidade. Tal voz, que chega a ser enfadonha, foi uma decisão deliberada com a intenção de refletir o estado emocional da personagem.

Quando se chega à canção final, I See Stars, a Cady aprendeu a sua lição, evolui; logo a Angourie pode “soltar-se”. Causa algum choque descobrir o quão forte e potente a voz da atriz pode ser. É compreensível esta escolha de direção, mas, ao voltar a se escutar o álbum, paira uma dúvida: “Será que não teria sido melhor deixar a intérprete cantar com toda a sua garra, desde o ínicio?”. Fica um certo vazio ao pensar-se naquilo que as canções poderiam ter sido.

E o vazio aumenta ao se aperceber da falta de alguns temas-chave neste filme presentes no musical de origem. É fácil de imaginar que selecionar canções de uma peça de teatro de dois atos para um único filme seja complicado. Porém, existem canções no material de base que são cruciais para explorar a evolução emocional das personagens.

O primeiro solo da Cady, It Roars, foi substituído por What Ifs, que é igualmente agradável de se ouvir e capaz de introduzir a personagem A nostalgia pelo original é inevitável, mas até que não está mal.

A reprise de What’s Wrong With Me? poderia ter sido incluída no projeto final. Trata-se de um momento de conexão entre Gretchen e Mrs. George, onde ambas as personagens mostram as suas vulnerabilidades. Outra reprise em falta neste álbum, mas que foi incluida na versão extendida lançada a 20 de fevereiro, é a Someone Gets Hurt (Reprise). A cancão ilustra o estado de frustração de Janis após confrontar Cady.

Antes de fechar a crítica, vale ressaltar que apenas se está a levar em consideração a banda sonora e não a maneira como ela foi usada no filme. Existe uma parte extra do contexto visual que não foi analisada. Para além de poderem existir canções presentes no filme, mas que, por algum motivo, não fazem parte do álbum.