A cultura corre no sangue do jovem arcuense, entre música, pintura, história e fotografia.

Bernardo Antunes, um jovem músico de 26 anos com raízes minhotas esteve em entrevista com o ComUM, tocando nos pontos centrais da sua carreira. Desde a maneira como a música surgiu na sua vida aos detalhes dos projetos em que se tem envolvido, Bernardo mostra ter, verdadeiramente, uma alma de artista.

A música surgiu espontaneamente na vida de Bernardo Antunes. Por volta dos 13 anos, viu uma guitarra em casa e decidiu experimentar. Acabou por engraçar com o instrumento e, durante os três anos que se seguiram, aperfeiçoou a sua técnica na escola DêDê Música, em Arcos de Valdevez.

Bernardo encarou a música, desde cedo, com a seriedade de uma carreira. Começou a tocar em diferentes grupos e bandas, adquirindo grande parte da sua aprendizagem sozinho e com outros músicos, sem qualquer formação superior em música. O artista contou que foi apenas com 14 anos que formou a sua primeira banda, que adquiriu o “bichinho do compromisso”, muito graças à figura do pai de um dos seus colegas do grupo, que os acompanhou e auxiliou.

Para além desta influência, da qual o jovem músico nunca se desligou, o apoio familiar sempre foi importante. Apesar da vertente musical mais tipicamente minhota que o pai queria que Bernardo seguisse, “ele gostava que eu pegasse na concertina e tocasse, só que eu dizia pai, deixa-me estar que eu não quero nada disso”. O resto da família habituou-o a ouvir bandas como The Rolling Stones e The Beatles, que lhe interessaram mais.

Nas festas de família, encorajavam-no a pegar na guitarra e eles acompanhavam com a voz. “Sempre senti que a minha família gostava de ser artista”, diz Bernardo. Agora, em dias de concerto, mesmo quando os destinos são mais fora de mão, a sua família faz questão de estar presente. Este impulso familiar proporcionou-lhe novas experiências e perspetivas, como ter de juntar aos acordes da guitarra a própria voz, o que não costumava fazer.

Os diferentes projetos e grupos dos quais o artista arcuense fez parte acabaram por culminar na aposta pela carreira a solo. Depois do confinamento causado pela pandemia do Covid-19, o projeto em que Bernardo estava a trabalhar acabou por se desfazer. “Veio o confinamento, cada um seguiu a sua vida e eu fiquei e agora, o que é que eu vou fazer?”, conta. A vontade de continuar a explorar o mundo da música aliou-se ao esforço para gravar as próprias músicas em casa.

“Eu estava com receio porque ia ser quase a minha estreia a cantar, nunca tinha feito um projeto a solo, a usar o meu nome”, e assim surgiu “Canção Para Um Coração Sem Rumo”. “As pessoas começaram a gostar, a reagir muito bem, a ouvir, e isso deu-me um bocado de segurança e confiança em mim mesmo”, diz. Bernardo continuou a trabalhar e lançou mais singles “Memória”, “Amor, Sabes Lá” e “P’ra Nunca Mais Recordar”, até estrear o seu primeiro disco “Dias Melhores”.

Neste momento, Bernardo conta também, para além da sua carreira a solo, com outro projeto conjunto, os “l’agroupment”. Trata-se de um projeto relaxado que surgiu despretensiosamente, quando um grupo de amigos se juntou e, de modo orgânico, deu origem ao conceito animado e festivo do grupo. Dos “l’agroupment” fazem parte seis membros e os seus concertos, geralmente em bares e cafés, são marcados por muita dança e diversão. Bar aberto, oferta de tremoços e de amendoins compõem os seus espetáculos, em jeito de festa. Na banda, Bernardo ocupa o lugar de baterista.

Acerca do seu processo criativo, Bernardo revela que “está sempre a mudar, é momentâneo, por fases”. O artista pensa que diferentes momentos e diferentes sítios, até, influenciam a criação de uma música. Apesar disto, preza por se sentir confortável no espaço em que está a criar e, também, por tentar inovar nas letras e nas melodias. Exalta particularmente o local onde criou as suas primeiras composições- “quando comecei a compor era num espacinho mesmo minúsculo em casa e eu sentia-me tão confortável, sinto um bocado a falta desse sítio”.

Bernardo Antunes deu o seu primeiro concerto em Custóias, no Porto, na festa privada de um amigo. O músico destaca o festival “Absurda Art Fest”, no Jardim dos Centenários, em Arcos de Valdevez, o da FNAC de Viana do Castelo e o concerto que deu na cidade de Valença, como alguns dos mais especiais. Em cada concerto, Bernardo diz gostar particularmente dos momentos em que o público interage e se sente à vontade com a banda, cantando os temas ou dançando ao som deles. É o registo mais intimista e de maior proximidade com quem está a assistir ao espetáculo que mais o agrada, porque, como diz, “um concerto não é só a banda que o faz”.

Embora a música seja o sonho da vida de Bernardo, ainda não o consegue fazer exclusivamente, gerindo com aulas de História e História de Arte. O músico entende ser muito difícil ter um balanço entre o que se investe e a remuneração e as oportunidades que se obtêm, sobretudo quando não se trata de música tradicional portuguesa. Desde o tempo investido na composição das músicas, o dinheiro investido nos instrumentos e na sua manutenção, os gastos com as deslocações e com o pagamento dos músicos, Bernardo não acredita que haja retorno para todos estes fatores. Especialmente no norte, “é aquela ideia romântica de tocar e que dali vai sair uma oportunidade muito boa, o que nunca acontece”. Bernardo sente que há pouquíssimos artistas que conseguem fazer da vida música. À semelhança destes, o artista pretende continuar a tocar, mas com a mentalidade de que, como o próprio diz, “vais fazer isto porque gostas e enquanto tiveres vontade de fazer faz”.

Num meio com tanta oferta, a promoção dos artistas pode ser um desafio. Neste ponto, Bernardo revela acompanhar a evolução das diferentes redes sociais e plataformas digitais. Nas suas palavras, “um músico hoje em dia também é isto, não é só compor e escrever e fazer a música, é pensar na sua divulgação (…) e o problema das agências é que limitam um bocado àquela exclusividade do artista e aí eu já não poderia tocar com os l’agroupment, não poderia tocar noutros projetos e isso faz-me falta”, explica. Muitos artistas optam por divulgarem o seu trabalho em programas de talentos. Bernardo não considera essa opção, “eu não consigo interpretar as músicas dos outros, se for assim não me iria evidenciar, então, prefiro estar no meu canto”.

No futuro, Bernardo espera, sobretudo, continuar a ter a motivação e a disciplina para fazer música: “com a vida profissional uma pessoa chega a casa e muitas das vezes não tem vontade e tem de criar essa disciplina para fazer, para tentar, porque eu sei que quando começo a compor é 80% lixo e 20% alguma coisa para aproveitar”. Pretende, numa fase diferente, experimentar novos instrumentos, influências e estilos.

Bernardo Antunes revela-se esperançoso e mostra vontade em envolver-se noutros projetos, se não conseguir continuar com a sua carreira a solo, tendo ainda um longo caminho a percorrer- “não me considero ainda um artista completo nem tão pouco realizado”. Sem se esquecer dos “l’agroupment”, disse ao ComUM que espera que eles continuem a tocar em bares e a fazer a festa, “que também é preciso”.