Foi em 1992 que surgiu, no meio dos grupos culturais minhotos, a primeira tuna feminina da Universidade do Minho. Conhecida pelo seu nome peculiar e o toque de bossa-nova, a Gatuna tem vindo a marcar cada vez mais a sua presença na vida académica. Em entrevista ao ComUM, Helena Ferreira, diretora de Comunicação da tuna, deu a conhecer o que significa pertencer à Gatuna e o que a torna tão especial, mencionando também os entraves pelos quais as tunas podem passar.

Foi num grupo de amigas que surgiu a ideia de criar uma tuna feminina, a primeira. A razão apontada pela entrevistada é simples: não existia nenhuma e estava na altura de inovar os grupos culturais. Mas, uma tuna, não se cria, simplesmente. Por isso, apesar de os rascunhos iniciais da Gatuna terem surgido em maio de 1992, apenas em outubro desse ano é que se deram inicio aos ensaios. Depois de muitas horas de treino, dedicação e suor, a tuna foi finalmente apresentada à academia minhota a 28 de abril de 1993, no Palácio da Dona Chica. Contudo, ainda sem nome oficial. A 9 de maio desse mesmo ano, a totalidade da academia pôde conhecer a tuna, durante as festividades do Enterro da Gata, que acabaram por originar o distinto nome Gatuna.

Mais de 30 anos após a sua criação, a Gatuna agrega cada vez mais membros e uma extensa coleção de prémios, símbolos do seu esforço, sendo difícil escolher o mais marcante. “Costumamos ganhar sempre algo em todos os festivais em que participamos, e é sempre motivo de grande alegria. Mesmo que seja habitual, dá-nos sempre uma enorme satisfação pelo nosso trabalho”, conta Helena Ferreira.

Segundo a gatuna, sempre com o propósito de “cantar e encantar” presente, os ensaios são repletos de boa energia e descontração, mas também de profissionalismo e dedicação. Começam por aquecer a voz e o corpo, deixando fora da porta as preocupações do dia a dia. Logo depois, percorrem o seu reportório, escolhido previamente, de modo a averiguar o que estiver menos bem. “Tentamos carregar um bocado nos erros e melhorá-los, porque se tivermos um e pensarmos ‘Ok, errei. Tudo bem, vamos passar à frente’, assim não vamos melhorar, temos é que carregar no erro e fazer com que fique bem”, explica Helena.

Um outro objetivo que está sempre na mente das integrantes da tuna é o seu festival: o Trovas. “É sempre um festival que é relembrado por toda a gente, é o nosso ponto alto do ano, obviamente, porque é algo que nós construímos e vamos trabalhando o ano inteiro. É o momento que mostra o que é que nós somos, é o nosso festival, e é o “nosso bebezinho””.  O festival, normalmente, conta com a participação de tunas estrangeiras, contudo esse não é o objetivo principal do evento. “É muito interessante ver-se um cartaz de um festival e pensar ‘fogo elas vão trazer tunas de fora, devem ser mesmo boas, vai ser incrível ver pessoal de fora’ ver isso num cartaz também chama as pessoas a virem conhecer-nos”, mas afirma que a ideia é mostrar quem são e fazer com que as pessoas gostem de as ver.

Apesar de ser um grande motivo de orgulho, é também algo que requere muitas horas de trabalho e envolve bastante logística “Temos de fazer as coisas com muita antecedência porque o festival envolve mesmo muita logística. Demora mesmo o ano inteiro para se preparar e correr bem”. Este ano, será a vigésima oitava edição do Trovas, e muita coisa mudou desde a primeira edição. O que mais se destaca é a crescente qualidade das condições em que o festival se realiza e as melhorias na organização do mesmo. Neste sentido, a gatuna destaca que estas melhorias decorrem dos erros cometidos no passado e a aprendizagem que retiram dos mesmos, “se uma coisa corre mal num ano, este ano temos de fazer de uma maneira diferente, aprendemos de acordo com os erros”.

Convívio, entusiasmo e animação são palavras que utiliza para tentar expressar o que é fazer parte de uma tuna. Helena partilhou que, além disso, surgem sempre algumas peripécias. “Do que as fundadoras dizem, o I Trovas, foi um evento muito marcante, porque elas tinham divulgado um festival internacional, só que a tuna que era de Santiago de Compostela, acabou por dizer à ultima da hora que não podia ir, e como não havia redes sociais, nem nada, era muito mais difícil de comunicar. Então, elas pediram uma carrinha emprestada à AAUMinho e foram para Santiago de Compostela à procura da tuna e pedir para que elas viessem. Acabaram por encontrar alguns elementos e trouxeram-nas. Assim conseguiram fazer o festival internacional que tinham prometido”.

Para Helena, o que dá ânimo aos grupos culturais é o público que os assiste, pois essa é a sua maior fonte de apoio e motivação. É, por isso, bastante desanimador ver uma falta de entusiasmo, por parte de uma grande parte dos estudantes, perante os grupos culturais, quando estes têm tanto para oferecer. “Estamos aqui para animar e entreter os estudantes”. Destaca que isto é mais notável durante os dias de grupos culturais na Receção ao Caloiro e no Enterro da Gata, pois são os dias com menos gente “Se nos dessem uma oportunidade veriam que é o melhor dia”.

Um outro ponto referido como algo que pode ser um constrangimento para um grupo cultural é a falta de financiamento: “Sem o apoio necessário acaba por ser um bocado difícil levar as coisas para a frente”. Festivais, digressões… tudo tem um custo, que para uma tuna, para uma organização sem fins lucrativos, pode ser difícil de acarretar. A realização dos eventos depende muito dos patrocínios e do dinheiro que conseguem recolher numa determinada altura, sendo este um fator condicionador da vida da tuna, causando uma certa insegurança. “Na minha opinião, é esse o lado mais difícil de pertencer à tuna, de não saber como vai correr, todos os anos são diferentes e principalmente agora que tudo é mais caro, não sabemos nunca o que esperar do ano.”

Os sentimentos e emoções, a entreajuda e união do grupo juntam-se num só, no momento em que pisam o palco, todas juntas, a tocar e a cantar “A Braguesa. É a nossa música, a que nos dá mais ânimo tocar e aquela que nos caracteriza na vida académica, no mundo das tunas.” A bela ode à cidade de Braga, que acolhe a Gatuna todos os dias “de porta aberta”, com toques de bossa-nova é sem dúvida aquela que leva toda a gente a escutar com atenção, e, quem sabe, a juntarem-se à tuna num ensaio”, conta.

Helena Ferreira despede-se, indicando a porta aberta dos ensaios “Venham experimentar os nossos ensaios, primeira porta à direita, que nós estamos sempre abertas a toda a gente que queira entrar e experimentar”.