Seja Patrícia Mamona no triplo salto, Fernando Pimenta na canoagem, a seleção nacional de rugby ou, mais recentemente, Diogo Ribeiro na natação, verificamos que a realidade desportiva portuguesa se enche de enormes talentos que continuam a colocar o nome do país no mapa. As conquistas destes atletas e destes coletivos não deixam de ser celebradas no espaço mediático, mas a realidade do jornalismo desportivo em Portugal, à semelhança da grande maioria dos países europeus, centra-se no futebol.

A discussão sobre a presença das modalidades no espaço público é necessária, mas, para que a possamos ter, não podemos ignorar o impacto das audiências. Enquanto desporto-rei, o futebol é capaz de imobilizar por completo o povo português, aquando, por exemplo, de um jogo da seleção nacional, fazendo subir os ratings registados de forma significativa. São esses números que alimentam, e em alguns casos mantêm vivos, os canais televisivos, os jornais e outros meios noticiosos.

Na verdade, o dinheiro é o grande governador do desporto-rei, orientando a ação e os interesses das grandes entidades desportivas, mesmo quando as mesmas fogem à opinião do público. Um exemplo deste aspeto passa pela eventual criação de uma nova competição europeia, acima da Liga dos Campeões, algo que vai contra a vontade da grande maioria dos adeptos que se têm manifestado sobre a questão, mesmo sendo apoiado por muitas das equipas de topo da Europa.

Por outro lado, são cada vez mais as pessoas que procuram defender um novo paradigma, no qual seja dado o mesmo tempo de antena a outros desportos. Pertencendo a esse grupo, acredito que não podemos (nem devemos) deixar de olhar para esta questão com esperança, considerando sempre os vários amantes das modalidades e o forte impacto social que estas têm nos portugueses. São milhares as crianças que desenvolvem o seu caráter com a prática desportiva, algo que não incide apenas sobre o futebol. São estas as pessoas que anseiam por uma aposta dos órgãos de comunicação social na cobertura igualitária da realidade em causa, sendo por isso importantíssimo continuar com esta luta.

Para tal, no meu ponto de vista, o trabalho das federações, das suas ligas e dos clubes que as constituem é fundamental. Seguindo o princípio de Marketing que aponta que “quem não é visto não é lembrado”, acredito que estas entidades devem ser as primeiras a partilhar diferentes conteúdos com os órgãos mediáticos, de forma a dar a conhecer a sua realidade ao público e, posteriormente, fazer com que sejam os jornalistas a procurar pela informação.

Para além deste ponto, vejo as redes sociais como um meio capaz de potencializar uma competição, ou até mesmo um clube, sendo a aposta neste mundo digital importantíssima para incentivar este consumo diversificado. Vejamos o caso da Liga 3, o terceiro escalão de futebol nacional, que é alvo de mais atenção por parte dos adeptos quando comparada à 2ª divisão, muito graças à sua assiduidade nas redes sociais, aliado, claro, ao trabalho do Canal 11 (que, pertencendo à Federação Portuguesa de Futebol, confirma também a ideia do parágrafo anterior).

No entanto, a responsabilidade não deixa de fugir aos jornalistas, que devem continuar a busca por informação nas várias equipas de diferentes competições. Os órgãos locais, por exemplo, possuem um nível de proximidade com o consumidor verdadeiramente elevado, tendo, por isso, a oportunidade de estabelecer um contacto forte entre o público e a oferta desportiva da sua região. Por consequência, este poderá desenvolver nas pessoas uma forte paixão por estas modalidades, criando nas mesmas o hábito de se informarem e de procurarem saber mais sobre estas realidades que em muito fogem ao futebol.

Todos estes aspetos, quando trabalhados harmoniosamente, farão com que seja atingida uma cobertura do desporto nacional com mais pluralidade, promovendo um caminho que nos aproxime da igualdade entre as diferentes modalidades. Aponto apenas para uma mera aproximação com muita infelicidade, reconhecendo que um perfeito equilíbrio de distribuição da análise desportiva na agenda pública é apenas uma utopia. No entanto, não devemos deixar de dar voz àqueles que outrora a viram ser negada, não recebendo o reconhecimento devido. Afinal, é esse mesmo o papel do jornalismo.