Os Excluídos, do realizador Alexander Payne, atualiza o género dos filmes natalícios ao explorar as disparidades de classe. Angus Tully, um adolescente abandonado pela sua família durante o Natal; Paul Hunham, um professor marcado pelas injustiças sociais, e Mary Lamb, uma funcionária que perdeu o filho na guerra, são obrigados a passar a quadra natalícia juntos, desvendando os passados complicados de cada um. Estreou-se em Portugal dia 14 de fevereiro de 2024, e conta com um elenco extraordinário. Destaca-se Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa, que se estreia no grande ecrã.

No ano de 1970, o professor Paul Hunham assume quase um papel inverso ao famoso professor John Keating de O Clube dos Poetas Mortos (1989). O docente orgulha-se na exigência que pede aos alunos e, por ter reprovado um aluno de uma família particularmente prestigiosa, fica encarregado de supervisionar os estudantes que não conseguem voltar a casa durante a época festiva. Entre esses alunos está Angus Tully, cuja mãe celebra a lua-de-mel com o seu padrasto. Embora Tully seja um aluno inteligente, o seu comportamento colocou-o em apuros em diversas escolas. Quem também permanece em Barton Academy de New England – o internato masculino – é Mary, a cozinheira-chefe, que perdeu o seu filho na guerra e sente-se marginalizada, obrigada a lidar com rapazes privilegiados e mimados. Estas diferentes personalidades são exploradas ao longo do enredo, resultando num filme festivo com uma atmosfera positiva.

Na sequência de abertura é imediatamente aparente um filme esteticamente deslumbrante. A pós-produção acrescenta os elementos característicos da gravação analógica dos anos 70 e atribui uma nostalgia instantânea ao ambiente. Da mesma forma, a trilha sonora brilhante incentiva uma imersão na atmosfera criada pelo filme.

Além do drama evidente integra-se a comédia, que transforma um argumento emocional no filme de Natal ideal. Isto culmina numa cena de perseguição, em que Hunham corre atrás de Tully. Metaforicamente, e também em cenários criados por estas duas personagens masculinas, surge uma dinâmica de pai/filho ou protetor/protegido. Essencialmente Hunham quer que o jovem seja uma pessoa boa, apesar das circunstâncias em que nasceu, algo que fica bem conseguido por Paul Giamatti. A evolução do professor assemelha-se à de Scrooge do clássico Um Conto de Natal, de Dickens, afastando-se eventualmente dos seus preconceitos e aproximando-se dos seus alunos. Por sua vez, Dominic Sessa brilha na sua estreia no cinema.

É imperativo mencionar o papel de Da’Vine Joy, que interpreta maravilhosamente a dor de uma mãe. Mary aceita um trabalho em Barton pela oportunidade de uma bolsa de estudo para o seu filho, que quando chega a altura não consegue pagar as propinas de uma universidade e é, portanto, enviado para o Vietname, ligando para sempre a sua mãe àquela escola.

A produção realiza um excelente trabalho ao transmitir que o filme se passa em 1970. Não cai na armadilha de uma caricatura estilística da época, algo comum em muitas outras produções.

A óbvia ironia de lançar um filme de Natal em meados de fevereiro ultrapassa um mau agendamento e torna-se num lembrete para manter o espírito natalício vivo durante todo o ano. A história calorosa de personagens que se encontram em momentos mais difíceis e formam a sua própria família nas paredes gélidas da escola constituí não apenas uma peça de entretenimento, mas também uma reflexão sobre a superação de preconceitos e a construção de conexões humanas genuínas.

https://youtu.be/6-emhERNodA?si=V6cY3ifW78lYIqx2