Júlio Magalhães, autor português, estreou-se na ficção com “Os Retornados: Um amor nunca se esquece”. Este romance histórico mergulha numa época bastante atribulada de Portugal, tendo como cenário a descolonização dos territórios africanos.

Com uma combinação entre a realidade e a ficção, esta obra retrata a situação de centenas de portugueses obrigados a abandonar toda uma vida em Angola no período do 25 de abril. Num ambiente dominado pelo terror, este país africado considerado um paraíso por muitos, transformou-se rapidamente numa fonte de sangue. Em que nenhum angolano de coração, mas não de pele podia continuar a viver em segurança.

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Deste modo, foi criada uma ponte área entre Angola e Portugal, no qual os aviões iam vazios, mas voltavam carregados de almas melancólicas e despedaçadas. E, é aqui que a ficção entra em cena, com o surgimento de Joana, uma belíssima assistente de bordo a serviço da companhia aérea portuguesa que conhece Carlos Jorge. Como todos os passageiros daquele avião, Carlos Jorge ia em rumo para um país desconhecido, mas que deveria considerar seu, deixando o seu coração em Luanda.

De forma simples, mas bem conseguida, Júlio Magalhães transmite o sofrimento de um passado não assim muito longínquo. Retrata as dificuldades que muitas destas pessoas tiveram de passar quando regressaram a Portugal, sendo menosprezadas pelos aqueles que deveriam considerar irmãos.

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Esta obra oferece igualmente ao leitor uma diferente perspetiva da Revolução dos Cravos, que é normalmente recebida com alegria e entusiasmo, mas que neste caso teve uma receção oposta por estes “retornados”. Outro aspeto admirável deste romance é a reflexão sobre temas políticos, que apesar de não serem diretamente discutidos no livro, relembram a influencia que a política tem na vida de cada cidadão.

Apesar da vertente verídica da história estar bem construída, a parte mais ficcional deixa um pouco a desejar, apresentando um enredo sem grande originalidade e bastante superficial. Contudo, “Os retornados” não deixa de ser uma boa escolha para os amantes de história, trazendo á memoria o tormento de um povo esquecido.

“O regresso a Lisboa de quase meio milhão de portugueses, feito de forma precipitada, era bem a imagem daquilo que foi o processo de descolonização: confuso e desastrado. Regressaram apenas com o que tinham vestido, deixaram tudo para trás.”