O último álbum da banda rock britânica The Jam veio a público a 12 de março de 1982. The Gift tem em si muito pouco da essência original de The Jam, não significando, porém, que tenha sido um fracasso.

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No último projeto de The Jam é notável a passagem do punk-rock, estilo musical e marca da banda britânica desde a sua formação no início dos anos 70, para o funk e mod. The Gift traz, num compilado de 11 músicas, uma nova musicalidade que serviu de prelúdio à banda que Paul Weller, vocalista e guitarrista, viria a integrar pouco depois: The Style Council.

A abrir The Gift está “Happy Together”, sem o habitual punk-rock a faixa é totalmente entregue ao funk convidativa a uns bons passos de dança logo desde o início.“Ghosts”e “Carnation” duas baladas, mais calmas, cheias de emoção e sem defeitos no que toca à letra e ao instrumental.

“Precious” retoma o ritmo que principia o álbum: uma intensidade crescente, fervilhante e bastante característica do som POP britânico do início dos anos 80. “Town Called Malice”, título principal do álbum, tem exatamente as mesmas características, o que lhe garante até aos dias de hoje um lugar de destaque na cultura POP, contando com aparições em séries televisivas como The Walking Dead.

“Trans-Global Express” tem um lugar muito especial de destaque entre todo o compilado. Toda a harmonia, jogos de letra e refrão são de uma mestria fora do comum. Nesta faixa é claro o amadurecimento – e eventual cansaço resultante da metamorfose musical ao longo dos anos – de The Jam e o seu centro, Paul Weller, mas também a muita sensibilidade musical. Além de tudo isto, a faixa número cinco do LP é espelho de diversas influências e referências musicais como Sex Pistols, Led Zeppelin, The Beatles e The Who.

Em “Just Who Is the 5 O’Clock Hero?” os instrumentos de Weller, Foxton e Buckler dão um ritmo alegre à canção que enaltece a classe  trabalhadora “das nove às cinco” britânica. Os que trabalham são caracterizados por Weller como os verdadeiros “heróis” que vivem “num constante sofrimento para existir”. Já “Running on the Spot” traz lembranças das raízes e projetos anteriores da banda e “Circus” surge como o interlúdio perfeitamente discreto, ao ponto de não permitir a quem ouve dar pela ausência de letra.

A menção honrosa final vai para a “The Planner’s Dream Goes Wrong”, uma faixa com ligações puras ao jazz-funk, e “The Gift” que encerra o compilado de forma enérgica, mais ligada à essência original de The Jam.

Por fim, importa salientar a importância de The Gift que é, para muitos, um clássico, e The Jam que veio a servir de referência a grandes nomes como Oasis na década de 90. Hoje, mais de 40 anos depois, o último “presente” dos The Jam é um marco do mod e punk-rock britânicos, sempre bom de revisitar.