Vitória da direita foi demasiado renhida e é obrigada a negociação entre partidos. Afluência às urnas não atingia valores tão altos desde 1995.
Os resultados que saíram da noite eleitoral a 10 de março surpreenderam as sondagens que garantiam uma vitória certa à Aliança Democrática (AD). Ainda assim, foram certeiros no que toca a uma viragem dos portugueses para o espectro da direita e a uma subida exponencial da percentagem de votos no Chega.
Entre as 20h e a 1h, os militantes do Partido Socialista (PS) e da Aliança Democrática viram-se numa montanha russa de emoções e terminaram a noite com incertezas. Agora o suspense será desvendado com os resultados da emigração ao longo dos próximos dias.
Com menos de 1% de diferença, Luís Montenegro garantiu uma vitória muito abaixo das suas expectativas. Uma liderança que lhe dá 79 deputados (29,49%) e uma incerteza quanto à formação de Governo, que só será possível com uma ajuda do Chega, que elegeu 48 deputados (18,06%). O líder social-democrata destacou a recuperação de “cerca de novos 200 mil eleitores e também mais mandatos” e aguarda convite do Presidente da República para formar Governo. Já o PS, com menos dois deputados (28,66%) relativamente à AD, garante ser uma oposição firme a um Governo de direita.
André Ventura já se aventura numa pressão à governabilidade da AD e refere que apenas um ato irresponsável pode afastar uma solução. Quanto a Pedro Nuno Santos, em nome dos socialistas, defende que não será um entrave à formação de um Governo de direita, mas sim uma oposição forte. Algo que compromete futuras ações por parte da AD, como a aprovação do Orçamento de Estado.
O mapa de Portugal pinta-se da cor da Aliança Democrática sobretudo a Norte e o Partido Socialista angariou votos em grande parte dos distritos do centro e baixo centro. O sul pertence, em parte, ao Chega, tendo o partido de direita radical vencido nos distritos de Setúbal, Portalegre e Faro.
Apesar de uma perda de poder por parte da esquerda, o Livre transitou de um para quatro deputados no parlamento. O partido defende que o seu espectro deve governar se tiver mais deputados. Na linha dos principais vencedores da noite encaixa-se igualmente a Iniciativa Liberal (IL) que, apesar de não ter aumentado o número de mandatos, angariou mais 44 mil votos. Os liberais sagram-se como quartos vencedores e Rui Rocha anunciou que não vai travar uma solução estável de governação, negando, porém, qualquer acordo com o Chega.
O Bloco de Esquerda (BE) manteve os lugares adquiridos até agora e Mariana Mortágua garante fazer parte de “qualquer solução que afaste um Governo de direita”. Já a descida da esquerda verificou-se concretamente no CDU-PCP (Partido Comunista Português), com menos dois deputados face a 2022 – quatro deputados agora. Paulo Raimundo assumiu no domingo que o resultado obtido constituiu “um desenvolvimento negativo”. O PAN (Pessoas – Animais – Natureza) elegeu uma única deputada para o parlamento, Inês Sousa Real. A líder responsabilizou Marcelo Rebelo de Sousa pela instabilidade política sentida e salientou a positividade na manutenção da “representação parlamentar”.
Descida da taxa de abstenção
Com mais de um milhão de votos registados, o Chega aparenta ser um dos principais fatores correlacionados com a descida da taxa da abstenção. A noite terminou com uma nota positiva para a afluência às urnas com um total de 6.051.460 votantes, dos 9.139.117 inscritos. Estes números correspondem a uma taxa de abstenção de 33,8%, o valor mais baixo desde 1995.
Esta descida mereceu ser apelidada de “conquista” pelos vários líderes políticos considerando o contexto português, que marca uma celebração dos 50 anos de democracia. Este valor surpreendente permanece longe do valor histórico registado no 25 de abril de 1974, com 8,5% a marcar a abstenção. Nas eleições de 2019 a taxa de abstenção atingiu o seu recorde, 45,5%, algo que leva o país a festejar.
Ainda assim, os festejos não chegam ao máximo da sua virtude tendo em conta o possível fator, apontado por alguns portugueses, para tão grande movimentação às urnas. O Chega quadriplicou o número de deputados e assistiu a um aumento particularmente significativo na percentagem de votos. Algo que se deve sobretudo aos jovens, camada que tem vindo a dar especial atenção às ideologias da direita radical.
Nos grandes centros urbanos a taxa de abstenção esteve ligeiramente abaixo da média nacional, com cerca de 30% dos residentes a não votar. Lisboa passou de 38% para 31%, face às Legislativas de 2022, e o Porto seguiu pelo mesmo caminho, fixando-se nos 29,95% – um recuo face aos 38,16% em 2022.
A região autónoma dos Açores voltou a registar um dos valores mais altos na abstenção, com 53,8% dos açorianos a não mobilizar-se até às urnas. O círculo eleitoral de Vila Real segue em segundo lugar com 43,8%, um número que já era igualmente expectável. Ainda assim, o pedido de Marcelo Rebelo de Sousa foi ouvido e os 50 anos após abril ficam marcados por uma positiva mobilização do povo português para a votação em eleições antecipadas.