Portugal apresenta valores que já preocupam especialistas no que toca à escassez de recursos hídricos.

No dia 22 de março comemora-se o Dia Mundial da Água, com o objetivo de consciencializar a sociedade para a importância deste recurso. Refletir sobre como gerir a água de forma mais sustentável e assegurar a justiça social são os principais fatores para a celebração desta data.

Em Portugal, a necessidade de implementar soluções para mitigar a escassez dos recursos hídricos torna-se cada vez mais evidente, sendo crucial adotar medidas mais profundas e eficazes. Segundo Anabela Carvalho, docente na Universidade do Minho, não é adequado fazer “uma avaliação micro ou individual pois a questão deve ser considerada em múltiplos setores”.

 

Fonte: IPMA 2022 e Relatório do Estado do Ambiente 2022

 

As alterações dos comportamentos, o reforço da fiscalização e a construção de dessalinizadoras nos concelhos mais afetados são “medidas de pensos rápidos” que, de acordo com Anabela Carvalho, podem não se revelar suficientes a longo prazo. “Temos de ver o que está em causa e o compromisso das entidades que têm mais espaço para reduzir, como por exemplo as indústrias turísticas, em comparação com o consumidor doméstico.”

O consumo e a utilização de água para diversas atividades implicam perdas significativas. A docente explica que cerca de 30% de água é desperdiçada “no transporte e no percurso percorrido até às casas devido aos problemas de gestão das câmaras municipais das cidades”. Municípios estes que, de acordo com Anabela Carvalho, “acabam por não conseguir responder às necessidades e encontram várias limitações”.

É necessário apurar responsabilidades e criar condições para a existência de um diálogo “assente em problemas de justiça social, para que possa existir uma maior sustentabilidade social”.  Para evitar a escassez da água e os possíveis danos socioeconómicos, a docente universitária realça que “há responsabilidades de outros agentes também, nomeadamente os decisores políticos, as empresas e outros setores que podem ser agentes da mudança”.

A proteção ambiental também deve ser assegurada num período em que as alterações climáticas apresentam “uma projeção clara de aumentos dos períodos de seca em Portugal e alterações de pluviosidade tradicionais que já se fazem sentir nas regiões localizadas no centro e sul do país”. Anabela Carvalho aponta ainda para o inevitável abandono de certas culturas na agricultura devido à “insustentabilidade dessas produções” provocado pelas alterações climáticas.

A docente conclui que os cidadãos podem agir perante a escassez dos recursos hídricos ao “fazerem pressão, denunciarem os casos, escreverem artigos em jornais, ter movimentos cívicos e todo o tipo de iniciativas”. Assim, refere, demostram a sua contestação perante a “inação das entidades que têm responsabilidades e podem mudar este panorama.”