Hazbin Hotel é uma série animada de oito episódios, cada um com duas canções. É um musical e é para maiores de dezoito anos. A primeira temporada conta com as vozes de Erika Henningsen, Stephanie Beatriz, Blake Roman, Keith David, Alex Brightman, Amir Talai, Jeremy Jordan e Kimiko Gleen.

A série acompanha Charlie, filha de Lúcifer, e as suas tentativas para implementar uma solução pacífica que resolva o problema da sobrepopulação no Inferno. Essa solução consiste na criação de um hotel onde os pecadores se podem redimir e, no check-out, ir para o Céu.

Esta história está repleta de tramas criativas, porém um tanto tresloucadas tal como a premissa (senão talvez mais). Esse absurdismo reflete-se na maior parte da banda sonora da primeira temporada. Porém, a meio de tanta loucura (e palavrões) as canções são muito agradáveis ao ouvido e viciantes, facílimas de memorizar.

Todos os temas desta OST homenageiam incrivelmente bem o teatro musical. Uns com um estilo mais tradicional, outros com um mais contemporâneo como, por exemplo, Poison.

Poison é o grande solo da personagem Angel Dust. À primeira escuta, parece ser apenas mais uma canção pop genérica inspirada nas batidas dos anos 80. Porém, ao prestar mais atenção, apercebe-se que, na verdade, é um pouco mais do que isso. A letra é de grande beleza lírica, repleta de metáforas e simbolismos. Através do uso de uma linguagem alusiva à dependência e ao vício em substâncias, esta canção retrata uma relação abusiva e o sentimento de culpa que quem passa por isso pode sentir.

No entanto, o ponto forte desta série não são os solos, mas sim os duetos e momentos musicais que envolvam um grande número de personagens.

Stayed Gone é um dos duetos mais memoráveis da temporada. É uma interação entre as personagens Alastor, o Demónio da Rádio, e Vox, o Demónio da Televisão. A letra é repleta de trocadilhos e jogos de palavras. Ao longo da faixa, ambos os demónios lançam “alfinetadas” um ao outro. Pode-se até interpretar Stayed Gone como uma sátira à rivalidade quase secular entre a Rádio e a Televisão. O instrumental desta canção intercala ora entre um estilo animado parecido ao swing, ora uma sonoridade sombria e macabra.

Também as reprises, os paralelismos e os motivos musicais repetidos no decorrer da banda sonora são cativantes.

Um dos temas que cai nesta categoria é Happy Day In Hell, a primeira canção na série. Serve como introdução a este universo fictício e também às ideologias da personagem principal. Charlie apresenta o porquê de ter criado o Hazbin Hotel, enquanto é interrompida por alguns transeuntes. A melodia desta canção ressurge no último número musical da temporada, Finale. É fechado um círculo, fechando-se também a história.

Isto sim é um exemplo de banda sonora para qualquer conteúdo musical! É animada, uma explosão de alegria. Possui alguns momentos mais sentimentais, como em More Than Anything, criando algum equilíbrio sonoro. Até as canções “mais fracas” constituem um tempo agradável de ser gasto, que pode culminar numa sessão caseira de karaoke!

É levada em consideração a principal regra dos musicais: “quando as emoções são intensas, as personagens expressam tudo o que se passa no seu interior através do canto e da dança”. É através da música que grandes revelações ocorrem – portanto, na hora em que o leitor interessado for ouvir esta compilação, preste atenção aos chamados spoilers. Apenas ao escutar estes temas é possível compreender e adivinhar os principais pontos da história.

Já foi escrito várias vezes ao longo desta crítica, mas volta-se a repetir: as letras inteligentes são o maior trunfo de todo este projeto. Os compositores Andrew Underberg e Sam Haft fizeram um trabalho de génio. Que a banda sonora da segunda temporada também seja assim tão estonteante quanto esta. Até lá, we’ll stay tuned.