A lenda viva da música brasileira atuou em Braga num dos quatro concertos em Portugal que pretendem exaltar e relembrar o seu disco homónimo.

Jards Anet da Silva, popularmente conhecido como Jards Macalé regressou a Portugal para revisitar o disco de estreia homónimo, de 1972. A passagem do músico pelo território português arrancou na última sexta-feira em tons de celebração com um concerto no gnration, em Braga.

Macalé é uma das grandes figuras da música brasileira, sendo o nome que compôs alguns dos maiores êxitos de Gal Costa e Maria Bethânia, e que produziu o disco Transa de Caetano Veloso. Considerado revolucionário por boa parte do público, o artista é um pilar do género MPB e do movimento Tropicália.

A personalidade apelidada carinhosamente de “o professor” apresenta uma carreira memorável. Com 81 anos de idade, Jards Macalé participou em projetos a escrever, compor, arranjar e colaborar com outros grandes nomes da música brasileira. Nos seus quase 60 anos de carreira, trabalhou com figuras renomadas como Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Donato, Criolo e Kiko Dinucci, transcendendo géneros e gerações.

A sua parceria com Gal Costa é com certeza uma das mais significativas na história do músico de Ipanema. “Vapor Barato”, “Mal Secreto”, “Anjo Avesso”, “Plusars e Quasars” ou “Hotel das Estrelas” são algumas das canções de Macalé que foram eternizadas pela musa brasileira. Maria Bethânia é outra voz poderosa que imortalizou algumas canções de Macalé como “Movimento dos barcos”, “Anjo Exterminado”, ou mais recentemente “Mistérios do nosso amor”. O artista é ainda uma das mentes por detrás da obra-prima “Transa”, de Caetano Veloso.

Jard Macalé conquistou ativamente os grupos de resistência à ditadura militar no Brasil entre 1964 e 1985 com a sua grande semelhança a Caetano Veloso e outros contemporâneos. Com obras censuradas e o seu nome rasurado nos jornais, o artista chegou a estar a poucos passos da prisão quando encabeçou o espetáculo “O Banquete dos Mendigos”, em 1973, para assinalar os vinte e cinco anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Lançado em 1972, “Jards Macalé” é o disco que “o professor” revistou no seu mais recente concerto no gnration. O projeto inovador e essencial junta o espírito do samba e da bossa nova brasileira com a essência ardente do rock, as harmonias clássicas e a improvisação do jazz. Com tons de nostalgia, homenagem e celebração, Jards Macalé regressa então a Portugal com o objetivo de revisitar este trabalho com uma série de concertos em território nacional que prometem ser como a sua própria obra: indomável e inesquecível.