Hoje o dia da mulher está especialmente marcado pelo contexto português. O que podem esperar as mulheres para o futuro dos seus direitos?

Nesta sexta feira, 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher. Esta celebração não é apenas uma mera homenagem a todas as mulheres impactadas pelas desigualdades de género, é também uma reflexão pessoal para a forma como ainda é tratado este sexo.

Do século XX, em que foi instituída esta comemoração internacional, para o século XXI houve alterações a nível político para a mulher?

O jornal O Público apresentou alguns dados relativamente à posição das mulheres na política, onde se comprova o desequilíbrio do género feminino face ao género masculino. Em 1976 era de apenas 1,9% a percentagem de mulheres com cargos políticos. Já em 2022, com 37,5%, a mulher não representa nem metade da liderança política. Ainda que a subida seja relevante, o estabelecimento de quotas obrigatórias foi o principal fator de elevação da presença feminina no parlamento.

 

 

Dados do jornal nacional, de Agosto de 2022, revelam que só 29 presidentes da Câmara eram mulheres, num total de 308 municípios. Deste modo, o ComUM esteve à conversa com Sara Pereira, professora no departamento de Ciências da Comunicação e investigadora no Centro de Estudos: Comunicação-Sociedade da Universidade do Minho.

Nestas legislativas os partidos de direita têm vindo a ganhar cada vez mais apoiantes e as preocupações das mulheres estão, significativamente, a aumentar. Alguns candidatos defendem ideologias que podem colocar em causa a posição da mulher de acordo com a perspetiva de alguns cidadãos. A docente afirma que essa insegurança está no medo que se tem em poder retroceder face ao que se tem alcançado com a emancipação feminina. Do seu ponto de vista não considera que exista desvalorização da mulher na política: “estão de corpo inteiro, estão integralmente e, de modo geral, são respeitadas pelos pares políticos”.

As líderes femininas em lugares de destaque são cada vez mais notórias, porém, ainda não é o desejável. “Deveria haver um maior espaço na política para mulher, e isso dependeria sempre do espaço dado e do espaço que a mesma queira ocupar”, refere a investigadora. Ao longo dos anos, são cada vez mais as mulheres a dividir tarefas domésticas com o/a parceiro/a. Desta forma, o espaço para ingressar em novos projetos é maior.

 

A visibilidade nesta campanha é equilibrada ou ainda há um longo caminho a percorrer?

Sara Pereira afirma que “quem grita mais”, como o líder do CHEGA, tem uma visibilidade que aparenta ser maior. Contudo, líderes como Mariana Mortágua têm uma visibilidade significativa, ainda que desigual uma vez que “o público tem sempre esta imagem de que quem está mais em ‘palco’ tem mais destaque” nos jornais e na televisão. “Não me parece que fiquem apagadas”. A docente refere ter muito em mente, por exemplo, discursos de Mariana Mortágua. A líder bloquista atrai cada vez mais apoiantes femininas para o seu partido. “O Bloco de Esquerda tem esta ‘tradição’ de trazer as mulheres mais para a linha da frente”.

Os direitos e as liberdades das mulheres são assuntos cada vez menos debatidos e existe uma necessidade de lutar mais pelas igualdades e pelo que é a posição da mulher e o seu lugar na sociedade. A professora universitária apela a que as mulheres incentivem o assunto a ser discutido. Alerta para quem toma uma posição diferente, enquanto mãe. Sara Pereira decidiu abdicar de um conjunto de trabalhos e tarefas para cuidar do filho. Afirma que não foi por não ser capaz de conciliar tudo, apenas escolheu outra opção para a sua vida naquela altura.

 

No que se refere ao aborto, a lei deve ser revista?

A especialista considera que não pode ser perdido tudo o que foi conseguido, devem ser respeitados os direitos da mulher e, sobretudo, ter em conta a sua voz. Salienta que rever o referendo poderia levar a um retrocesso no que diz respeito à liberdade da mulher e às suas decisões. “Os direitos uma vez já adquiridos não devem ser revistos e voltados atrás.”.

Estudantes da Universidade do Minho consideram que a lei deve ser revista, mas de um modo cuidado. Defendem que o aborto até às 10 semanas deve ser revisto para que se aumente para as 12 semanas. Acreditam ainda que a questão de voltar atrás com a legalização do aborto só levará “a uma maior clandestinidade” e dizem ser necessário ter em conta a escolha da mulher. Em contrapartida, também se afirmou que a lei deve ser revista, uma vez que uma gravidez envolve “um conjunto de células que é um ser vivo”.

Realça-se a importância do voto nestas eleições legislativas, as quais se considera ser das “mais importantes em Portugal”.

 

Artigo Realizado por: Ana Beatriz Ferreira e Camila Valente