Ser pai já não é o mesmo que há uns anos. Atualmente, esse papel adquire diversas idades, caras, géneros e dinâmicas, não se restringindo apenas ao sexo masculino ou ao geneticamente biológico.

De acordo com o dicionário da língua portuguesa, “pai” é progenitor, aquele que procriou um ou mais filhos ou o homem que exerce funções paternas.

As modificações ao longo do tempo nas estruturas familiares contribuíram para que a visão de progenitor se transformasse. Mais díspar, invulgar e singular. É possível encontrar uma figura paternal com maior facilidade, uma vez que pai não é só aquele que possui o mesmo ADN que nós.

O ComUM esteve à conversa com Maria (nome fictício) e o seu padrasto Agostinho (nome fictício).

Maria confessa que, inicialmente, lhe foi um pouco estranho, mas depois as coisas fluíram naturalmente. “Notei que ele tentava falar comigo, mas sem me fazer sentir desconfortável. Eu não sabia o que lhe perguntar ou responder.” Afirma que assimilando Agostinho como um “homem mais engraçado do que afetuoso”, apresentaram mais “picardias” e descreve a relação atual dessa forma.

Vendo-o “mais como um amigo ou uma espécie de um melhor amigo” por vezes não existe confiança suficiente para chamar à razão, pois “não há aquele elemento de autoridade”. No entanto, “quando é preciso fazê-lo, faz, e eu fico magoada no início, porque quando vem dele é mais sério”, declara Maria.

Agostinho reforça que nunca pretendeu “substituir ninguém” e não considera ser esse o seu papel. “Tenho o carinho e preocupação de um pai, mas não descuro a posição de amigo, uma vez que foi a base daquilo que é a nossa relação hoje.”

Para Maria, este dia não lhe diz muito e, devido à sua experiência pessoal, a palavra pai “perdeu o bom significado que é suposto ter”. Por outro lado, sente que a “relação íntima já está mais construída” com o seu padrasto e “quando é preciso amenizar uma discussão, dar uma lição de vida ou conselhos, ele entra”. Agostinho destaca o Dia do Pai como sendo um lembrete “de que não precisamos de um pretexto para celebrar relações”.

Estivemos à conversa com João (nome fictício), onde referiu que a sua dinâmica familiar era baseada num “divórcio pouco amigável”. Contudo, aprendeu a “separar o casamento dos pais da relação individual com cada um deles”.

Sendo novo, na altura teve as suas dúvidas e necessitou de conselhos de uma figura paternal. “Recorri muito a figuras que respeitava enquanto adultos: a minha mãe, a minha madrinha, amigos e professores, cuja opinião era valiosa para mim.” Durante esse período, teve momentos de “uma boa quantia de autorreflexão e de diálogo interno, passando pelo processo para perceber o tipo de pessoa e de homem que queria ser”.

Na falta de um exemplo, afirma que, para si, a palavra “pai” significa “estar presente e garantir que a voz na cabeça dos filhos seja boa”. “Educar com amor e não com medo ou outra emoção iminentemente negativa.” Acrescenta uma ambição pessoal de ser “o tipo de pai cujos filhos mencionam como um exemplo a seguir e com quem se sintam seguros, protegidos e amados”.

Também professores, funcionários, barbeiros e médicos, além do seu papel profissional na sociedade, possuem outro tão ou mais importante. O docente Daniel Tavares caracteriza o seu papel enquanto professor e pai como “conturbado, acumulado de trabalho e investigação”, uma vez que estava a terminar a fase de doutoramento quando a filha nasceu. “Tento dividir o meu tempo de forma racional e não trabalhar fora de horas, que é cada vez mais difícil, foi um salto de fé.”

“O primeiro pensamento que me passou pela cabeça foi: não posso morrer! Sente-se um peso e uma responsabilidade muito grande e temos de estar lá, cuidar e tentar fazer o melhor que se conseguir.” Acredita, porém, que esse peso acaba por ser aliviado com pequenos momentos de desenvolvimento, como um sorriso ou uma curta palavra.

Esforça-se por ser “um pai que ouve e não desvaloriza”. “A verdade é que, quando ouvimos uma criança de sete anos a chorar, há muita desvalorização por parte dos adultos.” Nesse sentido, salienta a importância de ouvir e estabelecer um diálogo e relação de confiança, algo que é destacado e relembrado hoje, 19 de março, dia do pai.