Este mês assinala-se o marco de meio século desde a Revolução do 25 de Abril. Como mulher e feminista, esta é uma data que me faz refletir e pensar no quão sortuda sou por ter nascido no século XXI. A verdade é que ao longo dos últimos anos, testemunhamos avanços significativos na luta pelos direitos das mulheres. No entanto, também reconheço que ainda há muito a ser feito. A Revolução do 25 de Abril trouxe consigo promessas de liberdade e justiça social para todos os portugueses e é nosso dever honrar esse legado.

Na época do Estado Novo, a mulher assumia um papel de inferioridade em relação ao homem. Elas governavam a casa, eles o mundo. As mulheres existiam para ser esposas, mães e donas de casa, e desde crianças que lhes era ensinado que esse era o seu papel. Não lhes era permitido trabalhar, sair do país, ou abrir uma conta no banco sem a autorização do marido.

A revolução de 1974 trouxe liberdade para protestar na rua pelos direitos negados durante 48 anos de ditadura. Grande parte da população manifestante foram mulheres cansadas de serem tratadas como inferiores. Desde aí as mulheres puderam votar e ser eleitas, casar com quem assim pretendiam e também divorciar-se. Profissões como juíza ou polícia, que até aí eram impensáveis, tornaram-se possíveis.

Segundo dados da PORDATA, a percentagem de mulheres analfabetas em 1970 era de 31%. As estatísticas mais recentes são de 2021 e indicam que o número baixou abruptamente para os 4%. São dados que provam o impacto da revolução na vida das mulheres, que em 1970 constituíam apenas 25,8% da população ativa, e em 2021 a percentagem atingiu o equilíbrio (praticamente) total com 49,9%.

Atualmente vemos como garantidos direitos como a educação, a participação política, a autonomia legal em questões como o casamento e o divórcio, e os direitos reprodutivos como o acesso a métodos contraceptivos e à interrupção voluntária da gravidez. No entanto, os direitos das mulheres ainda não alcançaram a igualdade aos dos homens em Portugal.

Apesar de todos estes avanços, há ainda muito pelo que lutar. Segundo o “The Global Gender Gap Report”, publicado em 2023, Portugal ocupa o 32º lugar no ranking de disparidade de género. No nosso país as mulheres auferem, em média, menos 16% de remuneração base mensal comparativamente aos homens, e o valor aumenta consideravelmente à medida que subimos na hierarquia da análise.

Depois das legislativas de março deste ano, foram eleitas 76 deputadas para a Assembleia da República, o que corresponde a 33,6% do Parlamento. O número foi inferior aos de 2021 e 2019, o que nos leva a considerar a hipótese de um retrocesso na paridade no nosso país, o que, aos meus olhos, é muitíssimo alarmante. É evidente que o mercado de trabalho continua marcado por desigualdades estruturais entre homens e mulheres, o que impede uma participação igualitária. Temos menos representação feminina em cargos de chefia e liderança, quer a nível económico como político.

Olho para o passado orgulhosa por tudo o que já se conquistou, e esperançosa por aquilo que ainda poderemos alcançar no futuro. A luta feminista não cabe só a homens ou a mulheres, mas sim à sociedade como um todo e só com esse esforço conjunto é que poderemos alcançar a verdadeira liberdade e um mundo onde todas as pessoas, independentemente do sexo, possam viver livres de discriminação e desigualdade.