A celebração da data pretende destacar o papel que a criatividade e a inovação podem desempenhar nas diferentes áreas do desenvolvimento humano.
O Dia Mundial da Criatividade e Inovação celebra-se a 21 de abril em vários cantos do mundo. A data foi adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2017, com o objetivo principal de aumentar a consciência acerca do papel da criatividade em todos os aspetos do desenvolvimento humano. Mais que isso, pretende alertar a população para o grande potencial da inovação na resolução de problemas económicos e sociais a nível global.
A inovação e a criatividade integram-se no quotidiano de cada cidadão, podendo ser visualizadas de formas explícitas ou não. Segundo a Neurociência, ela surge logo nas primeiras fases da infância, sendo esta a etapa da vida em que o indivíduo atinge a sua maior capacidade de absorver, modelar e inventar novas ideias. À medida que cresce, fatores como a influência de outras pessoas, as normas da sociedade e o grande medo de fracasso acabam por enfraquecer o potencial criativo original. Os pensamentos tornam-se cada vez menos abstratos e singulares, onde surge a necessidade de inovar para que eles não se percam de forma radical.
Em entrevista ao ComUM, Marta Alves, alumna de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho e profissional de Comunicação Estratégica, partilhou as suas perspetivas acerca da criatividade nos dias atuais.
“Sinto que ainda há quem pense que os criativos são seres iluminados, escolhidos para possuírem um dom excepcional: o dom de criar.” Esta conceção de criatividade é “bastante redutora e alienadora para as pessoas que não seguem o percurso expectável para ter sucesso nesta área”, destaca.
No seu percurso académico e pessoal, Marta refere que estabeleceu “uma relação ambivalente com a criatividade”. A especialista evidencia ainda que “vê na escrita e na oralidade uma espécie de escape”, que “permite desprender um pouco das amarras desse tipo de visão mais restritiva”.
O conflito entre estes dois modos de ver o mundo persistiu para Marta até ao momento em que decidiu ingressar na Licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho e, mais tarde, no Mestrado do mesmo curso, com especialização em Publicidade e Relações Públicas. A profissional acredita que as várias experiências vividas nestes cinco anos universitários foram essenciais para começar a “acreditar que a criatividade sem método e pensamento crítico dificilmente poderia trazer resultados”.
“Tive a oportunidade de, na minha primeira experiência profissional após a universidade, comprovar esta teoria. Desempenhei, durante quase quatro anos, o papel de gestora executiva do CreateLab, uma plataforma de Inovação e Criatividade do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho.” Marta foi responsável pela gestão de uma equipa de estudantes dos vários ciclos de estudos de Ciências da Comunicação que, juntos, deram resposta a vários desafios na área da Comunicação Estratégica. “O sucesso desta plataforma e dos colaboradores que dela fizeram parte dão mais força a esta minha convicção de que talvez esta seja uma forma mais abrangente e saudável de ver a criatividade.”
Questionada sobre a função da criatividade nos dias atuais, Marta salienta que, na sua forma de conceber o conceito, este “tem o papel de, em última instância, resolver um problema de diferentes naturezas – individual ou coletivo, objetivo ou subjetivo, independentemente do seu contexto”, sendo necessários para isto três elementos imprescindíveis: “informação, tempo e confiança”.
Já nos casos de processos criativos partilhados, Marta Alves refere a importância de uma boa sessão de brainstorming. “Continuo a acreditar que a reunião de uma equipa num mesmo lugar para ‘mandar ideias para a parede’ é a melhor forma de encontrar a solução”, refere. Mais que isso, acrescenta ser “importante relembrar que não somos máquinas e, muitas vezes, as ideias não chegam ou parecem fugir”. Nesses casos, Marta recorre à aceitação e aconselha “dar oportunidade ao nosso cérebro para trabalhar em backoffice, pois muitas boas ideias surgem nos momentos mais inusitados”.
A especialista em comunicação estratégia reflete ainda que “falar de criatividade, nestes dias, conduz-nos invariavelmente ao ‘elefante da sala’ apelidado de Inteligência Artificial”. Apesar de ainda não se considerar suficientemente versada no tema, Marta menciona que as “inovações tecnológicas sempre trouxeram notícias de ‘mortes’ manifestamente exageradas” como, por exemplo, o fim de meios de comunicação como a Rádio e a Televisão, com a chegada da Internet. “Sim, há dificuldades, há perdas de audiência e perdas de receitas publicitárias. No entanto, em vez de diabolizar a Internet, estes meios foram capazes de lutar para se ajustar e manter a sua utilidade, aproveitando as funcionalidades oferecidas pelo próprio ‘bicho-papão’ que era a Internet.”
Marta Alves salienta ainda a necessidade de humildade para a inspiração, sugerindo a visualização de trabalhos de outras pessoas na área, a procura de exemplos em plataformas como o Adobe Behance, Pinterest, Ads of the World e ou, simplesmente, a procura de um maior contacto com séries e música, uma vez que “nunca se sabe onde podemos encontrar inspiração”. Por fim, Marta aconselha que, sempre que possível, o processo criativo seja coletivo, pois “a partilha de ideias, por mais fora da caixa que possam parecer, pode ser muito útil para o resultado final”.