The Tortured Poets Department é o 11º álbum de Taylor Swift. Após duas horas do seu lançamento, a artista anunciou que se tratava de um disco duplo, que contava com mais 15 canções adicionais. Numa estreia com 313 milhões de streams no Spotify, as duas partes totalizam duas horas e duas minutos de músicas com letras melancólicas e vulneráveis.
No seu novo álbum, Taylor ultrapassa os limites entre as suas personas. Numa hora escreve como a dona de um diário e de uma forma mais pessoal, noutra como uma fantasia mais distante. A cantora reconhece a turbulência do seu relacionamento passado com a nitidez da caneta que usa para as suas composições. Co-produzido por Jack Antonoff e Aaron Dessner, The Tortured Poets Department intercala o seu pop-rock influenciado pelos anos 80 e os vestígios que Midnights (2022) suavizou na sua madrugada.
Numa “fase maníaca mútua como uma automutilação ou uma parada cardíaca”, Swift descreve os seus sentimentos durante o término com o ator Joe Alwyn e os demais relacionamentos em que esteve enquanto superava a sua paixão de seis anos. O álbum não projeta uma vitória ou conquista da artista, mas sim assinala o “sorriso malicioso que surge no rosto da poeta” quando a artista confessa que escreve melhor sobre “os piores homens”.
“Fortnight”, uma colaboração com Post Malone, inicia o álbum com uma melodia desolada, que dá vida à fase inicial de negação do recente término de Taylor. A canção conta com um clipe oficial em tons de preto e branco e mostra Swift acorrentada em uma cama. Simbolicamente, a compositora demonstra estar presa em uma espécie de sanatório, onde é medicada para curar o seu atual estado de espírito acerca do amor que arruinou a sua vida.
Em seguida, “The Tortured Poets Department” nomeia o álbum e reflete a sua essência através de um ritmo um pouco mais animado e com letras profundas que relembram um pouco o seu projeto anterior, o Midnights. O mesmo acontece em “My Boy Only Breaks His Favorite Toys”, que segue batidas mais agitadas e faz com que os ouvintes queiram dançar com a canção.
“Down Bad” retrata os sentimentos mais profundos de Taylor com uma melodia mais deprimida, as batidas são definidas por linhas de baixo simples e pulsantes de sintetizadores numa via mais electrónica. A cantora desabafa sobre a grande saudade do antigo amor que a faz chorar, como também da ingratidão que, às vezes, sente por parte deste parceiro.
No entanto, “So Long, London” faz referência a uma paixão que durou por muito tempo na sua vida e com os backing vocals sonorizam um triste adeus. Taylor expõe o seu coração partido e aceita a derrota neste amor através de um clímax que nunca chega no seu relacionamento. Tudo isto a partir de vocais angelicais que se misturam com algo semelhante ao recitar musicalmente um poema cheio de metáforas.
“But Daddy I Love Him” é uma balada brilhante, que descreve uma jovem de uma cidade pequena que foge com um amor passageiro de má reputação, causando o horror da sua família. Com um violino na sua mixagem, a letra poderá descrever o discurso que cercou o seu romance com Matty Healy, apesar deste nunca ter sido confirmado. Isto porque Taylor não agradou muito os fãs com os rumores do seu relacionamento com o vocalista do “The 1975”, tendo em conta que Healy já enfrentou acusações de misoginia e racismo em diferentes fases de sua carreira.
Já “Fresh Out The Slammer” apresenta uma velocidade mais lenta que cresce a cada verso para descrever a sua vontade de voltar a correr para os braços daquele que ama. A canção balanceia uma letra saudosa com um ritmo nostálgico, juntamente com sons de cordofones mais graves que garantem a profundidade dos seus tons.
A oitava faixa do álbum apresenta uma das melodias mais animadas e, ao mesmo tempo, melancólicas presentes na primeira parte. “Florida!!!”, um feat com Florence + The Machine, ganha os seus pontos de exclamação a partir da junção sonora de bateria com guitarras que descrevem uma história de fuga.
“Guilty as Sin?” reflete letras mais farpadas que evitam que o álbum fique preso apenas na monotonia da tristeza, apesar de apresentar melodias muito similares entre si. “Who’s Afraid Of Little Old Me” é cantada com vocais impecáveis que demonstram a força e a potência da artista. A música satiriza a perceção pública de Taylor, tal como as suas emoções mais intensas para confrontar aqueles que sempre tentam diminuí-la.
As guitarras com sons mais trêmulos em “I Can Fix Him (No I Really Can’t)” descrevem a ilusão de Swift em poder consertar o seu parceiro. Com um novo rumo, o instrumental que acompanha os seus vocais mais incisivos constroem a base para uma letra mais sombria que retrata as profundas auto-ilusões de Swift com o relacionamento a que se refere.
A faixa “loml” sugere um tom mais melancólico e descreve a sensação da artista em ser bombardeada pela antiga chama de um certo amor. “I Can’t Do It With A Broken Heart”, por sua vez, demonstra a sua vulnerabilidade juntamente com um pensamento mais otimista para se enganar sobre o término. Taylor demonstra os seus sentimentos mais íntimos ao referir que se sente depressiva, mas ironicamente ainda é capaz de lidar com o seu coração partido.
Em “The Smallest Man Who Ever Lived”, entra naquilo que os fãs nomearam como a “segunda fase de seu luto”. A música começa com um suspiro que demonstra a exaustão da cantora. Mais que isso, cresce a sua melodia lenta com raiva e paranóia que assinalam o estado de espírito em que se encontra naquele momento, exigindo por respostas. A primeira parte do álbum é finalizada com “The Alchemy” de uma forma mais enigmática e fantasiosa.
No entanto, as faixas de continuação que integram a segunda parte do álbum insinuam a próxima fase de Taylor Swift, uma mulher misteriosa que divaga entre relacionamentos passados. Sonoramente, a parte final do disco é mais calma e se assemelha mais com o folklore (2020) e o evermore (2020), os seus álbuns anteriores. “Clara Bow”, “thanK you aIMee”, “I Look In People’s Windows” e “The Profecy” são as músicas de maior destaque na parte final, pois intercalam com excelência entre momentos passados e sentimentos presentes na vida da cantora até os dias de hoje.
The Tortured Poets Department encerra e cicatriza as feridas de mais um capítulo da vida de Taylor Swift, além de colocar um ponto final no seu relacionamento mais duradouro. Apesar de não ser sonoramente inovador, o álbum conta com uma maior profundidade nas letras e uma melancolia vulnerável mesmo nas melodias mais aceleradas. Explicando o seu sucesso durante a sua estreia.
Álbum: The Tortured Poets Department
Artista: Taylor Swift
Editora: Universal Republic Records
Data de lançamento: 19 de abril de 2024