Ninguém faz funk como a Anitta. A “Girl From Rio” apresenta Funk Generation, um projeto engavetado por anos que está finalmente cá fora. Desde o funk Melody em espanhol ao funk proibidão em inglês, o projeto tem como intuito mostrar a cultura do ritmo brasileiro ao mundo. Sam Smith, Bad Gyal e Pedro Sampaio fazem parte de algumas das poucas colaborações do álbum.
Se há coisa de que a Anitta de 2012 deve estar orgulhosa é da sua promessa, agora cumprida, feita há mais de uma década de “levar o funk para o mundo”. Ela conseguiu. Funk Generation nasce precisamente de uma ânsia da artista de querer exportar um ritmo marginalizado, e até criminalizado anteriormente, para o cenário internacional.
Se antes se encontrava com amarras a produzir músicas mainstream e pop, agora a realidade é outra. A Republic Records pegou na artista e apostou todas as suas fichas neste novo projeto. Anitta sempre disse ser o seu maior desejo de ver o funk ser respeitado no mundo. Após mais de dez anos de carreira, consegue finalmente realizá-lo num projeto trilíngue.
“Lose Ya Breath” e “Grip” entram de rajada no álbum. ‘Que hermosa, gostosa, she parties with me, peligrosa’ (letra de “Grip”) já está na boca dos fãs há alguns meses. A faixa foi pela primeira vez apresentada nos MTV VMA, no setembro passado. Tem sido uma das grandes apostas de Anitta para divulgar Funk Generation. Trata-se de um funk bem dançável e catchy. Distingue-se das demais pelo uso de acordes de guitarra elétrica, como se de rock se tratasse.
Apesar de já lançada há dez meses, “Funk Rave” não é de todo uma faixa a ser saltada. Uma batida contagiante inicia o single. A música passeia pelo funk característico carioca conseguindo uma mistura energética com elementos eletrónicos. A ideia é que o ouvinte se sinta numa verdadeira Rave de funk. No entanto, é no videoclipe que a sua essência é evidenciada. Sobre construções clandestinas de tijolo e barro, Anitta vai cantando com uma roupa alusiva à Furacão 2000 (produtora onde começou a carreira). O prémio Best Latin Music Video foi lhe atribuído na última edição dos MTV VMA.
O álbum continua na senda eletrónica com “Fria”. É notável o quão bem Anitta sabe conjugar o espanhol e o inglês, idiomas não próprios deste estilo, com o funk. ‘I just win, never lose’ afirma a artista, numa frase claramente aplicável ao seu empenho em fazer com que os outros escutem funk. A mistura com EDM no seu refrão torna a música tão singular que a faz uma das melhores do projeto. Por outro lado, “Meme” vem mais virada para o reggaeton.
“Love In Common” assume o lado romântico (ou não) de Funk Generation. Anitta aborda um relacionamento aborrecido onde afirma que terminar é a melhor opção. Mesmo assim, o funk-pop é bastante agradável de se ouvir. “Aceita” chega como resposta aos críticos. Numa nova mescla com eletrónica, a artista canta como se estivesse a interpretar uma entidade que vai andando pela rua a enaltecer as suas conquistas. A letra e o videoclipe, ainda por sair, apresenta referências claras à religião de Anitta: o candomblé.
Subitamente o álbum torna-se sombrio. Um ambiente de rua toma conta do álbum. “Double Team” dá entrada a este lado mais ousado. A parceria com a catalã Bad Gyal e o porto-riquenho Brray assume-se como um funk descaradamente irreverente e arrojado. A letra, explicitamente sexual, apela à liberdade e autoconfiança feminina. “Savage Funk” continua o legado. Durante os 83 segundos da música Anitta repete quase 50 vezes um palavrão com uma combinação de EDM com “kicks de automotivo”. Pode soar estranho, principalmente a quem não está habituado ao género musical. É precisamente isso que Anitta pretende, causar incómodo e interesse a novos ouvintes.
Eis que surge “Joga Pra Lua”. O terceiro single do projeto nasce de uma parceria com Dennis e Pedro Sampaio e já conta com mais de 50 milhões de streams. A verdade é que, apesar de cantada em português, a música combina com a energia do disco. É em “Cria de Favela”, “Puta Cara” e “Sabana” que os sons de rua vêm à tona. Desta forma, todos os sons envolventes levam o ouvinte a sentir-se num verdadeiro baile funk. O melhor arranjo musical do álbum faz-se soar na última parte de “Sabana” com uma mistura de fortes pancadas do funk com o saxofone.
“Ahi” com Sam Smith é a escolha para penúltima música. Foi com alguma controvérsia que a música acabou ser inserida no álbum. Sam havia cancelado a música por motivos desconhecidos, porém após alguns ataques dos fãs da artista brasileira acabou por autorizar o lançamento. Praia e verão são as palavras que melhor descreveriam a música. Mas é com o single “Mil Veces” que o álbum termina. Encaixa-se como funk melody e versa sobre querer uma pessoa e querer repetir momentos com ela mil vezes. Damiano David, integrante da banda Måneskin, é o par de Anitta no videoclipe.
Anitta não tem qualquer intenção de adaptar o funk ao mainstream. Ela faz o funk puro e duro como género quebrador de qualquer barreira. Experimentando em outras línguas, a verdade é que Anitta é única no que produz. Não é por acaso que o álbum se tornou o maior debut da artista, com mais de 12 milhões de streams totais no dia de lançamento. Através das redes sociais desabafou: “Se vocês soubessem todas as vezes que eu dei de cara numa porta fechada quanto tentei trazer o funk comigo (…) Pedir respeito ao ritmo considerado a escória do país se tornou minha sina”.
Álbum: Funk Generation
Artista: Anitta
Editora: Republic Records
Data de lançamento: 26 de abril 2024