FLETCHER regressou aos grandes lançamentos. Em março, saiu o seu segundo álbum. In Search Of The Antidote continua com a linha narrativa apresentada no álbum Girl Of My Dreams (2022).

Só que, desta vez, o foco está nos pequenos erros cometidos durante a recuperação de relações falhadas, na busca pelo amor próprio. Logo na primeira faixa, “Maybe I Am”, esta temática é introduzida, assim como a sonoridade e a ambience deste álbum.

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No que diz respeito às letras, honestamente, não houve uma grande evolução. A composição lírica de FLETCHER e dos seus co-compositores manteve-se intacta. A sinceridade de FLETCHER nunca foi abandonada ao longo de In Search Of The Antidote e rendeu alguns versos cómicos aqui e ali. Tal sinceridade resulta ainda em palavras vulneráveis, mas também em “bocas”.

Só em “Doing Better”, a segunda canção, são mencionados imensos símbolos importantes do projeto anterior da cantora, tais como a t-shirt vintage de uma ex e a “Becky”. Os refrões são muito apetecíveis de berrar a plenos pulmões. O single “Lead Me On”  é um dos mais memoráveis de todo o álbum. Isto deve-se à simplicidade das frases de FLETCHER, algo que já se tornou a sua característica. A canção começa num tom melancólico. Porém, logo a seguir ao primeiro refrão, entra a bateria e inicia-se um build up que enche a faixa de energia.

No entanto, houve uma canção cuja letra escapou um pouco à fórmula. “Crush” está repleta de imagens e metáforas que a tornam um tanto poética. Chega a haver um certo desconforto devido à escolha de palavras e ao trocadilho criado em torno da título. A palavra crush é usada para exprimir o desejo que Cari Fletcher tem de querer que a sua paixão por uma pessoa seja recíproca.

Também é usada para confessar a fantasia de querer ter a pessoa amada “por cima” durante a relação sexual. Porém, no final do tema, a palavra recebe um terceiro significado e é utilizada para descrever o sentimento de se ter o coração partido. FLETCHER evoluiu imenso vocalmente. As notas agudas e os beltings que alcança são impressionantes.

A voz da cantora soa mais “nua e crua”, parece que sai mais naturalmente – é difícil de explicar. Associado à performance vocal está uma ótima produção que a destaca ainda mais. Esta mesma produção consegue criar uma maior profundidade nas canções, no sentido que acrescenta pormenores (coros, pandeiretas,…) que engrandecem mais as faixas. Notam-se inspirações no pop rock da década de 2000 e de ídolos como Avril Lavigne.

Se há uma canção que encapsula toda a essência de In Search Of The Antidote, essa é a faixa número nove, “Pretending”. No refrão, a voz de FLETCHER chega a surpreender. Mas o ponto alto da música é a ponte, onde a parte vocal e instrumental unem-se, criando um momento extasiante de se ouvir. Também se deve mencionar o cuidado estético presente no vídeo clipe deste single. No que conta à atenção posta no visual deste álbum, foi feito um trabalho incrível.

O último tema, “Antidote”, fecha In Search Of The Antidote com chave de ouro. Já não se está mais em busca do antídoto. Este foi encontrado e, agora, apresentado e exaltado numa canção de amor. À primeira escuta, pode-se “estranhar” este álbum, devido ao conceito que apresenta. Porém, à segunda vez já se começa a “entranhá-lo”. No fundo, In Search Of The Antidote fornece uma boa meia-hora de descontração.

Se Girl Of My Dreams (2022) era uma caminhada inesperada por um novo rumo, In Search Of The Antidote é um passeio de bicicleta por altos e baixos anteriormente percorridos. Não há muitas surpresas e as poucas que existem não são muito alarmantes. O projeto está envolto num certo conforto. Porém, esse conforto não é inteiramente agradável.

Parece que FLETCHER ficou demasiado “na sua praia”. O ouvinte já está mais do que familiarizado com o estilo dela. As suas letras continuam amarradas à mesma fórmula. A voz e a produção estão diferentes, mas ainda permanecem no “universo” já mostrado no primeiro álbum e nos EPs.

Sendo que FLETCHER consegue ir mais além e a prova disso é a faixa “Crush”, anteriormente mencionada. A cantora é capaz de criar músicas com composições inteligentíssimas, quer na parte lírica, quanto na instrumental. Só que não o faz com tanta frequência, ou pelo menos não quanto aquilo que poderia estar a fazer.