No ano de 2024 o dia dedicado a Portugal sucede o dia dedicado à Europa. Infelizmente para o mundo da política, a primeira data é naturalmente mais importante para os portugueses. Afinal de contas, é um feriado nacional que prolonga o fim de semana e permite uma escapadinha para marcar a subida de temperaturas. Já a escapadinha às urnas fica por terra, com uma probabilidade de abstenção bastante alta.

Em 2019, a percentagem da abstenção atingiu o seu pico, com cerca de 69%. Em 2014 foi de 66% e em 2009 63%. Em 1987, quando integramos a União Europeia (UE), a taxa atingiu os 27% apenas. Ao longo dos anos o desinteresse cresceu e as políticas europeias foram cada vez mais desvalorizadas, não só pelos portugueses. É uma abstenção que se observa na maioria dos Estados-membros e que se junta à panóplia de desafios que a UE tem pela frente.

O Governo, porém, esforça-se por motivar as pessoas a exercer o seu direito de voto na política europeia. Excecionalmente, foi apresentada em Parlamento uma proposta que permite votar em mobilidade total. Portanto, os portugueses podem votar em qualquer mesa de voto, desculpas já não há! Ou pelo menos é assim que o Governo português pensa. Mas será o motivo da abstenção às eleições europeias um fim de semana prolongado, ou uma falta de representação no Parlamento Europeu que nos distancia cada vez mais?

Em debates eleitorais apercebemo-nos de uma dificuldade por parte dos diferentes partidos portugueses de separar políticas nacionais de políticas europeias. Os próprios partidos desvalorizam estas eleições e provocam um desinteresse altamente prejudicial à nossa participação na Europa. A acrescentar, atualmente a UE encontra-se numa ponte quebradiça acima de um lago com três grandes crocodilos: o crescimento da extrema-direita, a soberania dos Estados-membros e a desordem internacional.

Como respondem os partidos a estas questões é o verdadeiro desafio. O que continuamos a ver nos debates passa por ataques, ironias e os mesmos dois temas ao longo dos últimos seis debates. Não haverá algo mais a abordar para além do conflito Rússia-Ucrânia e a crise das migrações? Já sabemos qual a posição dos partidos relativamente a estes temas, mas aprofundá-los e apresentar medidas concretas continua a ser o calcanhar de Aquiles dos nossos líderes partidários.

Espera-se uma subida acentuada da extrema-direita. Relativamente aos resultados das eleições, afirmo que podemos excluir todos os partidos, exceto o Partido Socialista, a Aliança Democrática e o CHEGA. Um leque de opções muito vasto claramente, mas os próprios debates não ajudam. É cada vez mais transparente o desejo de dar algo digno de um balde de pipocas à população portuguesa. Com conflitos internacionais, um segundo mandato de Joe Biden ou Donald Trump, a saída do Reino Unido da União Europeia e o crescimento da Inteligência Artificial, questiono-me sobre o mapa político traçado para 2024.

Pergunto-me qual será o nosso papel, o papel dos portugueses e dos jovens, para aquilo que alguns governantes chamam de “nova era” da União Europeia. Nos nossos políticos torna-se difícil de encontrar resposta, porque por eles seria um mapa semelhante à Pangea. Contudo, é certo que o nosso voto faz a diferença. Ouvir as políticas europeias apresentadas quer por Marta Temido, Sebastião Bugalho ou outro líder político pode ser vago, mas lê-las permite fazê-lo de forma informada. Não é pela falta de representação que devemos deixar de lado um direito que apenas nos traz benefícios. E poder escolher é um deles.