Elyanna já conta com dois EPs no seu reportório, para além de ter realizado o primeiro concerto inteiramente em árabe de toda a história do Coachella. A 12 de abril, disponibilizou o seu primeiro álbum, WOLEDTO.
Imediatamente na primeira faixa, que dá nome ao álbum, tem-se um instrumental um tanto épico que prende a atenção. A meio do tema, surge Elyanna, cantando uma estrofe de letra romântica. A cantora tem um timbre suave, mas repleto de agilidade vocal. Se for permitido cair em estereótipos em torno da música árabe, esta canção é digna de uma cena de filme em que um oásis é encontrado no meio do deserto.
WOLEDTO tem um início forte, porém a segunda faixa não fica atrás. Ganeni é um single energético e divertido, que conta com a sample de um poema declamado pelo avô de Elyanna. Nesta canção está refletido o tipo de sonoridade presente ao longo de todo o projeto: uma mistura entre melodias tradicionais árabes, com uma pitada de ritmos latinos e estilos mais modernos (como R&B e EDM).
É entre as faixas três e sete que o álbum parece atingir o seu apogeu. Os instrumentais e a voz de Elyanna são mais arrepiantes e surpreendentes.
Com este álbum, muitas das canções apresentadas nos espetáculos da artista palestino-chilena ganharam uma versão em estúdio. Uma dessas é Callin’ U (Tamally Maak). Este mash-up entre os temas do trio Outlandish e do cantor Amr Diab levou a um instrumental catchy, acompanhado de letras dos anos 2000 que, para muitos, poderão ser nostálgicas.
As transições entre as faixas são muito suaves. Uma dessas é a que conecta Al Sham e Mama Eh. Na primeira canção, a eu lírica diz estar pronta para o amor, já que, tal como é cantado, “uma vida sem amor, é um rio sem água”. Na segunda, é questionado o interesse amoroso, se este tem habilitações para o amor da intérprete . Al Sham é uma música com uma batida eletrónica intensa, que é, na reta final, progressivamente substituída pelo som de uma pandeireta. Essa pandeireta marca o ritmo de Mama Eh, o primeiro single do álbum.
WOLEDTO tem, ao longo de toda a sua duração, uma sonoridade sólida e constante. Porém, existem momentos que fogem ao estilo característico do discoEstes momentos foram bem colocados e não fazem com que as canções pareçam deslocadas do projeto. Por exemplo, a faixa Kon Nafsak começa com o dedilhar de um ukulele. Porém, de repente, ouvem-se cordas orquestrais, e no grande final, é uma nota aguda esplêndida de Elyanna. Ocorreu uma mudança de estilo na própria canção, que a torna ainda mais impactante.
Tal como o princípio, o final de WOLEDTO é igualmente extasiante. Em Sad in Pali temos uma mistura de ritmos e sons que se ouviram ao longo de todo o álbum. Odisco enecrra com uma mensagem agridoce de saudades da terra natal.
Chega a dar pena que a maioria destas canções sejam tão curtas. Este deve ser o grande defeito do projeto: alguns temas seriam mais beneficiados se durassem mais um pouco. Teria sido muito interessante ver e ouvir uma versão estendida de Lel Ya Lel, que tem apenas um minuto e trinta. Poderia ter sido feito algo mais com a batida da ponte/outro, talvez.
No geral, é um projeto ótimo de se ouvir. É um álbum realizado de forma exímia. Claro que tem a barreira linguística, mas é como se diz: a música é uma língua universal. E WOLEDTO é uma demonstração disso.