A Palavra que Resta marca o romance inaugural de Stênio Gardel no universo literário. Apenas com três anos nas livrarias, o livro já conquistou múltiplas indicações em prémios literários de prestígios, destacando-se o Prémio Jabuti, Prémio São Paulo de Literatura, National Book Award e Prémio Literário de Dublin.
A narrativa desenrola-se ao redor de uma antiga carta preservada por mais de meio século e jamais lida, que se torna a chave de uma jornada pessoal para Raimundo Gaudêncio. O homem carrega consigo não apenas a carta: há também a memória de um amor secreto e trancado na sua juventude. Analfabeto, Raimundo nunca pôde decifrar o conteúdo daquela missiva, mas agora, com 71 anos, propõe-se aprender a ler, decidido a desvendar os segredos da carta e, com isso, curar a ferida emocional que o acompanha desde tenra idade.
Nascido e criado na roça, Raimundo não frequentou a escola, pois desde cedo precisou de ajudar nas tarefas do campo. Há muito tempo, foi forçado a deixar a família e a sua vida no interior do Brasil para trás. Desse tempo, Raimundo guarda apenas a carta que recebeu de Cícero, quando o amor proibido entre os dois foi descoberto. Cícero partiu sem deixar rasto, exceto aquela carta que Raimundo não sabe ler (pelo menos até agora).
“Mesmo depois de velho, parece que a gente não deixa de querer, o bom da vida é teimar.”
Com uma personagem principal tão humana e real, o autor deixa-nos presos a esta história desde as primeiras linhas. A sua escrita livre em fluxo torna-se atordoante para o leitor, não por ser críptica, mas por representar com maestria o turbilhão de sentimentos de Gaudêncio. É notável a forma como Gardel consegue transmitir as mais profundas angústias e os demais confrontos enfrentados por Raimundo.
Mais do que uma história de amor entre duas pessoas do mesmo género, A Palavra que Resta não é só um romance arrebatador sobre a repressão, o preconceito homofóbico e a violência física ou psicológica. É, acima de tudo, uma história de superação e de coragem para ultrapassar todos estes desafios.
“Se o senhor meu tio fosse vivo, talvez meu pai agisse diferente comigo, percebesse que homem gostar de homem não é pra ser coisa de morte, é pra ser coisa de vida, cheia de vida, era cheio de vida que eu me sentia com Cícero, e o senhor, meu tio, gostou de alguém assim? Teve tempo?”
Título original: A Palavra que Resta
Autor: Stênio Gardel
Editora: Dom Quixote
Género: Romance
Data de lançamento: 2021