Com Atavista, que já teve a sua estreia silenciosa há quatro anos, Childish Gambino, alter ego musical de Donald Glover, ressurge agora com uma versão remasterizada. Este lançamento, que ocorreu no dia 13 de maio, marca um momento importante na sua carreira. Refletindo a habilidade multifacetada de Donald, o álbum consolida-se como uma obra-prima que muitos consideram o seu melhor trabalho até hoje.

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Embora o título não tenha sido a primeira escolha de Glover, este remete à palavra “atávista”, sugerindo um regresso a raízes e experiências passadas. Surpreendentemente, Atavista foi disponibilizado nas plataformas de streaming quatro anos antes, durante a pandemia, mas passou despercebido. O álbum não tinha títulos nas músicas nem arte de capa, sendo, originalmente, nomeado em função do seu primeiro lançamento, “3.15.20”. A decisão do artista de não promover o álbum e mantê-lo anónimo na época revela uma vulnerabilidade genuína, oferecendo um vislumbre do tumulto que vivia num ano difícil. Em diálogo com a Complex, as suas palavras, “I was going through a lot… and that’s what I expressed”, enfatizam a autenticidade presente na sua arte.

Independentemente do nome, este álbum causou grande antecipação, sendo reconhecido como um dos grandes marcos de R&B da última década e uma demonstração dos talentos aparentemente intermináveis de Donald. O proclamado artista canta, faz rap, grava camadas densas das suas composições e vozes de outras pessoas, apresenta personagens diferentes para cada música e mistura instrumentos ao vivo com teclados eletrónicos analógicos e digitais antigos.

Apesar de algumas expectativas terem diminuído ao saber que este seria um álbum remasterizado, muitos permaneceram abertos à possibilidade de Glover surpreender com melhorias nas faixas, o que, efetivamente, aconteceu. O artista versátil demonstrou o seu esmero através do grande espectro que se verifica nas músicas, percorrendo desde a delicadeza do “vintage soul”, em faixas como “Sweet Thang”, até um lado mais obscuro e experimental em “Algorhythm” e “The Violence”, onde aborda temas profundos de maneira inovadora.

A faixa “The Violence”, uma reinterpretação do álbum anterior, destaca-se como a mais lírica, explorando o ciclo de violência e o seu impacto em comunidades marginalizadas, e termina de forma tocante com uma conversa entre Glover e o seu filho, complementada por uma produção gospel e soul sofisticada. Além disso, a produção em “To Be Hunted” apresenta um groove forte, contrabalançado pela provocadora frase “To be beautiful is to be Hunted”. Já a fusão de estilos em “Human Sacrifice” ressalta ainda mais a sua capacidade de explorar novas sonoridades e texturas.

Atavista conta, ainda, com colaborações de peso, como Ariana Grande, 21 Savage, Khadja Bonet, além dos coprodutores DJ Dahi (Kendrick Lamar, Drake) e o compositor vencedor do Óscar Ludwig Goransson, o que eleva e enriquece ainda mais a experiência auditiva.

Em suma, Atavista é um testemunho da evolução artística de Donald Glover, uma exploração das complexidades da vida, do amor e da autoaceitação. Com este projeto, ele afirma-se não apenas como um músico excecional, mas como um artista capaz de transformar as suas experiências em arte. É, sem dúvida, um dos grandes marcos do R&B contemporâneo e uma vitrine do talento inegável de Childish Gambino, que continua a motivar e influenciar outros criadores no cenário musical, deixando uma marca indelével no futuro da música.