A comemoração deste dia visa conscientizar a sociedade para as consequências que advêm do desperdício de alimentos.
Foi em 2019 que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o dia 29 de setembro como o Dia Internacional da Consciencialização sobre a Perda e Desperdício de Alimentar. Uma data marcante particularmente para quem faz a diferença na causa.
O ComUM esteve à conversa com um membro da equipa da Refood, núcleo de Famalicão, para saber mais sobre esta organização independente, com cariz voluntário. A empresa trabalha para combater o excedente alimentar, com a premissa de que a comunidade envolvida transforma a vida de todos numa “verdadeira economia circular e solidária – impulsionada pela boa vontade”.
Ângela Gomes, membro da Coordenação Refood, começou por nos explicar que foi através de Estefânia Pereira que a instituição chegou a Vila Nova de Famalicão, “Conhecendo bem a realidade de Vila Nova de Famalicão, percebeu que tínhamos todo o potencial para o promover.” Acrescentou que “se por um lado tínhamos em grande número os produtores de excedente alimentar, também tínhamos uma comunidade muito solidária e estes eram os dois pressupostos para o arranque do projeto”.
Para este projeto se tornar realidade, a ajuda de amigos e de informação através do núcleo Nacional foram fulcrais para Estefânia ganhar certezas de que era um “projeto ambicioso.” A partir destas informações, “organizaram uma reunião de sementeira onde convidaram parceiros estratégicos para dar a conhecer à comunidade o projeto e do que necessitávamos para o implementar. Desta reunião saiu um grupo maior de voluntários, que fizeram parte dos primeiros gestores, e a partir daí foi muito mais fácil”.
Durante um ano, os primeiros gestores envolvidos dividiram-se em várias áreas para poder estudar as melhores soluções. “Em fevereiro de 2016, a Refood Vila Nova de Famalicão foi uma realidade”, anuncia Ângela.
No entanto, como em todos os inícios de grandes projetos, o início da Refood em Famalicão não foi diferente, no que toca à resistência de primeiros parceiros. Isto prende-se com a questão de que “era algo novo e nunca visto na cidade, achavam-no interessante, mas diziam que não iriam conseguir ajudar, porque não tinham desperdício alimentar”.
Mesmo com algumas dúvidas e reticências por partes destes parceiros, que consideravam a contribuição alimentar insuficiente para alimentar os beneficiários da causa, estes foram os primeiros a alinhar. Ângela Gomes explica que “à medida que íamos fazendo as recolhas, todos os restaurantes, cafés, pastelarias, escolas e alguns supermercados foram capazes de alimentar todos os beneficiários que faziam parte do nosso núcleo. E este trabalho fez também que outras Fontes de Alimentos quisessem juntar-se a nós”.
Esta parceria, com as recolhas locais e também o facto de ser um projeto voluntário, ou seja, qualquer pessoa pode ajudar, ajuda a comunidade a ficar mais sensível ao tema. Mais do que sensibilidade, destaca-se a consciencialização da questão, reconhecendo a coordenadora que os parceiros “não tinham ideia de que grande parte do que confecionavam, acabava por se tornar desperdício alimentar, e aos poucos o excedente recolhido começou a ser menor. Apesar do Núcleo sentir e perceber que tinha menos comida para distribuir, não podia dizer que a missão estava comprometida, até porque combater o desperdício alimentar é a primeira premissa da nossa missão”.
O projeto foi crescendo, sendo cada vez mais divulgado e esta consciencialização foi se tornando mais real. A criação e declaração da ONU em 2019 do dia 29 de setembro como o Dia Internacional da Consciencialização sobre as Perdas e Desperdício Alimentar fomentou também essa sensibilização.
Questionamos Ângela Gomes quanto à mudança na comunidade sobre este dia, ao qual a esta confessa que “as mudanças ainda estão longe de serem significativas.” “Essa tomada de consciência tem vindo a acontecer e na nossa comunidade penso que o trabalho feito pelo Núcleo já é reconhecido, e quando fazemos alguma ação de sensibilização as pessoas reconhecem o desperdício alimentar como um desafio a combater, mas ainda há muito por fazer”, ressalva.
No âmbito da informação quanto ao tema, Ângela frisa ainda o consumo significante de desperdício alimentar por parte dos portugueses: “A poucos dias de mais uma comemoração, lemos notícias que nos dão conta que cada português gasta em média 350€ em alimentos que vão para o lixo”. Além disso, revela que“ quando dizemos que uma maçã que vai para o lixo, além da maçã que é desperdiçada, são 125 litros de água que também serão desperdiçados, porque foi dessa quantidade de água que foi utilizada na sua produção”.
A coordenadora geral da Refood salienta que “a comunidade está mais atenta e mais preocupada, mas ainda não é o suficiente.” Enfatiza também que a mudança no comportamento da sociedade passa “pela sensibilização dos mais novos, daqueles a quem vamos entregar este mundo já em esforço”. Finaliza dizendo que “acreditamos que este será mesmo o caminho, a par de ações de sensibilização onde se mostre em termos muito práticos todas as consequências das quantidades gigantes de desperdício alimentar, em Portugal e no Mundo”.