A 23 de agosto, Carol Biazin lançou a primeira parte de um novo projeto. No Escuro, sucede REVERSA que é, muito provavelmente, o melhor álbum da cantora brasileira. Mesmo com as expectativas altas, o novo disco conseguiu estar à altura, enquanto trazia um novo conceito e som para a discografia de Biazin.

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O início é forte. “Menina do Interior” abre o álbum com extrema melancolia. Enquanto se canta sobre a ansiedade da mudança do interior para a cidade grande, questiona-se quem se é de verdade. O instrumental ajuda a transmitir a mensagem, com a inclusão de barulhos de fundo metropolitanos.

E, quando o ouvinte pensava que já sabia como seria a sonoridade e a trajetória do álbum, chega a segunda faixa. “(Não) Quero Me Apaixonar” traz, sem qualquer aviso, um ritmo hip-hop. A letra faz lembrar um tanto o êxito “Garganta de Ana Carolina”. Todo o projeto No Escuro, traz à memória clássicos da MPB. No final, o instrumental tem uma reviravolta e o single termina em puro pagode. “(Não Quero) Me Apaixonar” é uma mescla de trap com samba, esta mistura está presente um pouco por todo o disco.

As batidas eletrónicas atingiram o seu apogeu em “Low Profile” e “1697”. O uso de distorções na voz nos momentos certos é surpreendente. Estas duas faixas ficam mais destacadas no alinhamento graças à letra, com os refrões “chicletes” e as referências à cultura pop, características na lírica de Biazin. Esta aliança entre instrumental e letra faz com que estas sejam duas das melhores canções de No Escuro,. Os produtores destas músicas esmeraram-se.

Segue-se “Tr*nsAnte” com um ritmo R&B sensual que, ironicamente, causa uma sensação de transe. Porém, o assunto aqui explorado na letra, relações sexuais (vulgo, “transa”), já foi melhor apresentado em outros projetos. No entanto, as imagens “desenhadas” são chamativas. Fora que está muito presente outro traço da escrita de Carol Biazin: os seus famosos trocadilhos e versos de duplo sentido.

A faixa a seguir, “Corações de Prata”, tal como a anterior, não foi bastante satisfatória. Nem o featuring com a cantora Duquesa pôde salvar a canção. Portanto, a quinta e a sexta faixas deixam um tanto a desejar. Mas, felizmente, são seguidas pela melhor canção do álbum. “Amor Traumatizado” tem todas as nuances líricas que Biazin tem vindo a construir… Elevadas à quase perfeição!

Tem as metáforas, os trocadilhos, o refrão que fica na cabeça… Tem tudo! A batida trap eletrizante desta canção é incrível. Faz dançar, enquanto se ouvem estrofes tristes sobre uma descrença gradual na existência de amores profundos e honestos. A outro, que é basicamente uma versão abrandada do refrão, leva o ouvinte a uma “nova dimensão”.

“Amor Traumatizado” estava a uma nesga de ser o melhor êxito da carreira de Biazin. Essa nesga é a parte vocal. Carol Biazin apostou em usar um registo mais suave ao cantar, preferindo não exibir o seu belting extraordinário. Neste disco, o foco está na produção e nas letras. É uma tática que nem todos os cantores teriam coragem de seguir, numa tentativa de elevar um álbum para outro patamar – há que apontar este aspeto.

As faixas oito e nove foram um tanto enfadonhas, a comparar com as outras canções. O choque de se passar de uma batida trap para um acústico é, em “Casula”, calmante. Mas em “Você” já não é integralmente agradável. Claro, podem ser ainda apreciados fragmentos da composição: ambas são sobre pessoas “casulo” que deram “asas” e conforto; mas, enquanto uma canção está repleta de inocência, a outra toca nos aspetos negativos das relações com essas pessoas.

A faixa derradeira, “Conversei Com Deus”, voltou a dar gozo ao ouvir o disco. Foi uma estreia ver Biazin a mencionar termos religiosos desta forma. Esta canção é uma súplica da artista a Deus, para continuar a ser verdadeira consigo própria. O instrumental regressa àquilo que a sonoridade do álbum era anteriormente. Pormenores como um barulho parecido ao de uma caixa de música, ou as melodias de uma harpa, envolvem a canção num misticismo que lhe é adequado

É possível notar a existência de uma temática analisada ao longo do disco. O tópico da primeira e das últimas três faixas é o mesmo: o “eu” interior; quem cada um de nós é de verdade. Porém, a linha narrativa que se consegue apanhar neste disco é bastante ténue, quase inexistente. É um tanto confuso ver a quebra de assunto logo na segunda canção, e só voltar na sétima. No entanto, há que relembrar que esta é a primeira parte de um projeto maior. Fica-se com a esperança de que os próximos capítulos possam complementar o que é introduzido aqui no “piloto”.

No Escuro, é um tanto contraditório, um começo mediano para um novo projeto. No entanto, esta mistura “transante” de MPB com trap, é muito agradável de se ouvir. Para além de que é uma ótima forma para começar a ouvir Carol Biazin – as nuances e peculiaridades da cantora estão solidificadas neste álbum.