Senso Comum, lançado em 2019, marca a estreia da banda madeirense NAPA. Anteriormente conhecidos como “Men on the Couch”, é neste álbum que se apresentam como uma banda que abraça a língua materna, escrevendo quase totalmente em português. Através da composição das canções, capturam a sua essência e aproximam-se dos ouvintes lusófonos, revelando autenticidade e amadurecimento artístico.

NAPA (Men on the Couch)

Abordando temas universais de uma forma leve, o disco é uma ótima companhia para quem aprecia momentos de introspeção. A sonoridade é uma fusão de indie rock com pop, misturando uma atmosfera vibrante e melancólica.

O ritmo dançante da maioria das canções por vezes camufla uma letra cuja mensagem é pertinente, como é o caso de “760”. O título refere-se ao uso de linhas telefónicas com custo adicional, uma prática comum em programas televisivos de baixo conteúdo. É realizada uma crítica ao superficialismo e consumo inconsciente do povo português, promovido pelos media.

Também é criticada a negatividade proporcionada pela cobertura mediática em Portugal, que muitas vezes conduz a um estado de alienação na audiência. Ainda que seja um assunto sério e relevante, é abordado com um sentido de humor disfarçado e inteligente, algo muito presente neste álbum.

Para além desta faixa, é crucial destacar a musicalidade de “Sol”, a canção mais impactante do disco. Neste tema, é explorada uma dualidade marcante ao misturar camadas sonoras para refletir o contraste entre a luz e a escuridão, uma assinatura do estilo introspetivo da banda.

Além disso, o timbre do vocalista contribui para uma profundidade emocional na canção. O registo suave e melódico da sua voz transmite uma sensação de vulnerabilidade e intimidade, juntamente com a guitarra que a complementa.

A entrega vocal íntima transporta-nos para outro mundo, repleto de sentimentos distintos, onde a saudade, o desespero e a esperança existem em simultâneo. Senso Comum prova que a música portuguesa está viva e merece ser valorizada. Não só revela uma nova geração de artistas que traz inovação ao panorama musical nacional, mas também reafirma a relevância de apoiar a produção musical em português.

Contudo, a abordagem lírica e instrumental, embora autêntica e comovente, ainda oscila entre temas e estilos que nem sempre se conectam de forma coesa. Algumas faixas carecem de uma profundidade que permita ao álbum sustentar o impacto ao longo de todas as músicas, deixando uma impressão de que a banda ainda está em desenvolvimento.

Pela mesma razão, os NAPA não alcançam totalmente o seu potencial e ainda estão a definir uma identidade mais firme e madura. A evolução da banda é só alcançada no álbum seguinte, Logo Se Vê, que veio a público em 2023.