Entrevista com o Vampiro é um dos picos do histórico castelo que é a literatura gótica e homoerótica. A obra de Anne Rice, publicada pela primeira vez em 1976, é apenas o primeiro livro de The vampire Chronicles, que continua a ser uma referência para o desenvolvimento de personagens com relações homoeróticas complexas, como Hannibal.

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A obra segue uma narrativa predominantemente na primeira pessoa, já que se trata do relato da história pessoal de Louis de Pointe-du-Lac, um vampiro esclavagista de Nova-Orleães, a Daniel Molloy, um jornalista em ascensão. O enredo divide-se entre o passado que Louis recorda e um apartamento em São Francisco, Califórnia, em 1973.

O protagonista descreve a sua vida, recordando de como a morte do irmão e a culpa que sentia pela perda o deixaram vulnerável para com o vampiro Lestat, que se torna o seu companheiro e com quem partilha uma relação romântica, mas nunca explicitamente sexual.

“Era como se quando eu  olhava nos olhos dele estivesse sozinho nas bermas do mundo …numa praia de oceano ventoso. Nada havia além do rugido das ondas”

Anne Rice é uma referência importante para a literatura gótica. O mundo que constrói na saga reflete verdadeiramente a beleza nua da crueldade na escuridão, além de explorar o vampirismo e o mítico como uma metáfora de beleza.

Existem evidências suficientes para concluir que o vampirismo de Rice é uma forma de fluidez da sexualidade. De uma forma mais subtil, sem incluir qualquer interação sexual entre os protagonistas, a autora constrói um império de Literatura homoerótica que se mantém firme nos dias de hoje. Desde a relação entre Louis e Lestat, Lestat e Armand, Armand e Louis e Daniel e Armand, cuja complexidade se manifesta de igual forma no desejo intenso de Daniel se juntar ao vampirismo motivado pela tragédia da vida de Louis.

Entrevista com o Vampiro é uma leitura pesada, cheia de momentos de introspeção e comédia negra. Refletem de forma complexa como Louis transforma as suas memórias turvas numa história que o jornalista quer ouvir. O relato de Louis abrange desde o ano da sua transformação em 1790 até ao ano da entrevista, em 1973. A beleza da obra vem da natureza nublada dos eventos que Louis relata, que põem em questão as ações e conversas entre ele e Lestat, a relação dos dois vampiros com a jovem Cláudia e as circunstâncias que o levaram a isolar-se até este momento. Desde o início, podemos perceber a complexidade na construção destas personagens: estão vivas além do papel, num universo muito maior do que elas.