Lançado no dia 28 de outubro de 2024, o mais recente álbum de Tyler, The Creator, CHROMAKOPIA, é um convite intenso e multifacetado para um dos mundos mais pessoais da música atual. Este álbum mostra um artista que, com o passar do tempo, se tornou mais honesto e que tenta a todo o custo proteger a sua cor num mundo sem brilho.
O disco apresenta 14 faixas densas e emocionalmente carregadas. Refletem a vida pessoal do artista, as suas dúvidas e o autoquestionamento do seu lugar no mundo. Revela ainda um lado mais sombrio, enfrentando temas difíceis de lidar de forma transparente. Como questões de masculinidade e raciais, a sua relação com a fama e as complexidades de relações familiares.
Algo curioso sobre o novo projeto de Tyler é a presença da sua mãe em várias faixas do álbum, como uma guia espiritual e confidente. Uma voz de afeto, arrependimento e, em momentos, sabedoria que ajuda Tyler a navegar pelo seu próprio passado e as dúvidas do presente. A decisão de incluí-la tão diretamente e de forma tão íntima cria uma nova camada de vulnerabilidade no álbum.
O álbum abre com “St. Chroma”. A faixa é como um testemunho do crescimento artístico e da inabalável autoconfiança de Tyler, The Creator. Celebra a individualidade, desafia expectativas e inspira os ouvintes a perseguirem as suas próprias paixões com a mesma intensidade ardente que o artista personifica. Com uma energia contagiante, letras introspetivas e uma mensagem poderosa, “St. Chroma” serve como uma introdução para o restante do álbum. Um convite para o ouvinte testemunhar o desmascaramento de um homem que sempre utilizou as suas próprias personagens como disfarce.
Já na faixa “Noid”, Tyler expõe ao ouvinte a relação complicada que tem com a própria fama e revela que ainda procura preservar a sua privacidade. Além disso, expressa paranoia e ansiedade ao refletir sobre a segurança e o isolamento emocional que a fama trouxe. Através de uma produção que mostra essa mesma angústia, acompanha-se ainda a voz da mãe do cantor, que o aconselha a não confiar em ninguém.
“I Killed You”, por sua vez, traz referências à cultura afro-americana. Aborda, pela primeira vez, de maneira tão direta, as dificuldades enfrentadas pela comunidade negra e o impacto que isso teve na própria autoestima de Tyler. A faixa é crua, dolorosa e encontra a sua força no uso simbólico do cabelo de mulheres negras. Muitas vezes, criticadas pela sociedade e, por isso, acabam por rejeitar o seu cabelo natural.
As músicas “Darling, I” e “Hey Jane” mostram uma versão mais sensível de Tyler, que ainda luta para se sentir confortável com relacionamentos e a ideia de compromisso. Em “Darling, I”, fala sobre os desafios de abrir-se para um amor verdadeiro. Enquanto questiona a sua necessidade de manter múltiplos parceiros como uma forma de evitar a profundidade emocional.
“Hey Jane” revela-nos as consequências desse seu espírito livre na sua vida sexual. A música retrata uma conversa entre o artista e uma mulher que ele engravidou acidentalmente. É uma faixa reveladora, onde ele explora temas de paternidade, aborto e o peso das decisões na vida adulta. Com um beat melancólico e rimas honestas, Tyler revela a fragilidade que sente em situações que não pode controlar.
O ponto alto do álbum vem, sem dúvida, na track “Like Him”, uma balada sombria que traz à tona a figura paterna do cantor. Através de um ritmo lento e arranjos minimalistas, explora as emoções complexas de crescer sem a presença do pai e como essa ausência moldou a pessoa que é hoje. A canção funciona como um espelho, onde finalmente confronta as questões de raiva e abandono que carregou consigo por tanto tempo. É uma faixa dolorosa e confessional que também surpreende o ouvinte com uma reviravolta emocional. No momento que a mãe de Tyler revela que ela mesma foi a responsável por afastar o seu pai.
O artista ainda mostra o seu lado provocador em faixas como “Rah Tah Tah” e “Sticky”. Em que celebra o seu sucesso e liberdade criativa com versos humorísticos e uma confiança inabalável. Estas faixas podem ser caracterizadas como as pausas da seriedade do álbum, misturando humor e autoafirmação com batidas energéticas.
Em “Take Your Mask Off”, Tyler e Daniel Caesar unem-se novamente para cristalizar o tema central do disco, explorando a ideia de identidade e o peso das máscaras que usamos. A faixa toca nas desconstruções da persona pública de Tyler, algo que ele já vinha explorando nos últimos álbuns. No entanto, é aqui que ganha uma nova dimensão criando um espaço de vulnerabilidade no meio de um álbum que já tocou em tantos temas de autossuperação e solidão.
Tyler sempre foi um artista que evoluiu de forma contínua, mas CHROMAKOPIA é a prova de que ele atingiu um novo patamar. É um álbum de crescimento, uma aceitação de que, às vezes, amadurecer é o melhor caminho para a verdadeira liberdade. Em CHROMAKOPIA, Tyler, The Creator reflete, provoca e cativa. É o trabalho de um artista que, ao olhar no espelho, finalmente se permite ver e mostrar tudo o que esteve ali o tempo todo.
Álbum: CHROMAKOPIA
Artista: Tyler, The Creator
Editora: Columbia Records
Data de lançamento: 28 de outubro de 2024