Com a curadoria de Inês Valle, esta é a primeira apresentação individual do artista palestiniano em Portugal.

No dia 8 de novembro, sexta-feira, foi inaugurada no Forum Arte Braga a exposição de arte contemporânea “Land After Art”. Até 12 de janeiro de 2025, estão reunidas várias obras criadas pelo artista palestiniano Khaled Jarrar nos últimos 12 anos, incluindo as que resultaram da colaboração com dois mestres oleiros barcelenses numa residência artística. Integrada no projeto “Cera Project 2023-2026, Territórios, Resistência, Liberdade”, conta com o apoio da InvestBraga, da Wilde Gallery e do Ministério da Cultura.

Ao entrar na sala da exposição, o visitante encontra um ambiente que o convida a refletir sobre a terra como sinónimo de liberdade. “A mensagem que pretendo transmitir é a de que se cuidarmos da terra, ela cuida de nós”, salientou Khaled Jarrar em entrevista ao ComUM. Esta mensagem é compreendida através da presença de uma ligação entre todas as obras expostas.

Destaca-se de imediato a instalação “Potatoes & Nails”, composta por cerca de 300 batatas com pregos espalhadas ao redor da figura de um caule de oliveira. Segundo Inês Valle, curadora da exposição, tem o propósito de ser uma “viva metáfora” de uma infância como a do artista e de tantos outros palestinianos, marcada desde cedo pela capacidade de resistência. Algo que capta os olhares mais curiosos é o facto de a oliveira estar, tal como a terra, dividida em dois: parte dela foi esculpida usando betão do Muro do Apartheid, que continua a separar a Cisjordânia de Israel.

O facto de o muro transformar a paisagem natural, incluindo florestas e terrenos agrícolas, é o que mais inspirou o artista natural de Ramallah a incorporar a natureza nas suas obras, alertando para a sua destruição. Na exposição, o visitante vê ainda como uma pequena semente luta para germinar no betão, ou como 24 fotografias tiradas num campo desflorestado mostram Khaled Jarrar no lugar de uma oliveira que, apesar das dificuldades, continua a fazer as suas folhas crescer.

O esforço do artista para revitalizar o terreno que comprou com os ganhos da sua arte rendeu dezenas de litros de azeite. Jarrar converte “estrume em solo fértil, oliveiras que frutificam azeitonas e, por fim, azeite em arte”, como indica Inês Valle. Por este motivo, na exposição encontram-se latas com a inscrição das moedas usadas na Palestina e 60 garrafas de barro resultado do trabalho no estúdio de olaria do português João Lourenço. Na mesma residência artística, Khaled Jarrar colaborou ainda com Domingos Vasconcelos para a criação da instalação de parede “Philistine Perfume”: pequenos recipientes com aroma a jasmim, usado na tradição filisteia de enterrar os mortos, de acordo com as palavras do artista.

A forte presença do azeite e da oliveira na exposição deriva da tentativa de perceber uma das maiores ligações entre Portugal e a Palestina. Segundo a curadora, esta árvore não é autóctone de nenhuma das regiões, mas a sua história “é a história da humanidade”. Estas peças serão, posteriormente, vendidas em leilão, o que vai possibilitar perceber qual o valor dado à arte, à natureza e ao ecossistema.

A exposição fica ainda mais completa com a apresentação de um documentário gravado pelo artista em 2012, que pode ser visualizado na íntegra ou por partes em ecrãs espalhados pela sala. “Infiltrators” narra as dificuldades enfrentadas pelos palestinianos que tentam atravessar o Muro do Apartheid, estabelecido como uma barreira entre várias famílias. Citando as palavras de Khaled Jarrar num texto de Inês Valle, “se todos nos juntássemos de mãos dadas (…), o muro cairia”.