A obra reúne textos de diversos autores e contará com mais sessões de apresentação.
A Casa do Conhecimento do Largo do Paço, em Braga, recebeu esta quarta-feira a apresentação do livro “Nos 50 Anos do 25 de Abril: memórias e reflexões sobre as mudanças da sociedade portuguesa”. Editada pela UMinho Editora, a obra assinala os 50 anos do 25 de abril, contando com o contributo de 26 autores.
A apresentação começou com as palavras de Manuela Martins, moderadora e diretora da UMinho Editora. Deu relevância ao facto de o livro ter sido transferido 530 vezes desde 27 de setembro, data na qual foi disponibilizado para acesso livre.
De seguida, o coorganizador José Cadima Ribeiro salientou que foram publicados vários outros livros no âmbito dos 50 anos do 25 de abril de 1974, tendo usado algumas referências na introdução que escreveu para a obra. Afinal, para o professor, as circunstâncias singulares como a democracia foi restaurada em Portugal foram a principal razão para os 50 anos continuarem tão celebrados, dentro e fora do país. Segundo Thomas Fischer, autor alemão residente em Portugal citado por Cadima, “o 25 de abril de 1974 foi, muito provavelmente, o golpe militar mais bonito de que há memória.”
José Cadima Ribeiro acrescentou que a obra “Nos 50 Anos do 25 de Abril: memórias e reflexões sobre as mudanças da sociedade portuguesa” se destaca pela natureza diferenciada dos testemunhos. O professor estruturou o livro em duas partes: uma primeira sobre memórias e uma segunda com ensaios científicos originais.
Entre os testemunhos deixados conta-se o discurso de José Manuel Marques, dirigido a milhares de pessoas na Praça do Município de Braga a 26 de abril de 1974. É possível também encontrar o comunicado distribuído pelo Movimento das Forças Armadas a Wladimir Brito no dia anterior à Revolução dos Cravos. Os ensaios e artigos científicos, por sua vez, debruçam-se sobre temas como a educação, a habitação, os direitos das mulheres e o desenvolvimento da democracia nos últimos 50 anos.
José Cadima Ribeiro concluiu que a obra é um texto historiográfico que reúne acontecimentos em Braga. Deixa um aviso de que é impossível para quem viveu a revolução não sentir a emoção ao ler o livro, principalmente quando se é confrontado com o contributo de Mário Tomé, um dos capitães de abril.
Passando a palavra aos autores, Licínio Lima sintetizou o desafiante trabalho sobre a Educação com que contribuiu para a obra. “Eu não fui capaz de deixar de o escrever, mesmo sabendo que não o deveria ter escrito”, confessou, para surpresa do público presente, apesar dos 43 anos de estudo sobre o tema. “Mas a atividade académica é isto mesmo. Há que arriscar.”
Entre outros assuntos, Licínio Lima falou sobre os saneamentos dos diretores das escolas no período pós-revolucionário, as reformas realizadas por diferentes governos e a ideia de que “as Universidades se tornaram mercados internos”. O artigo do autor aborda, ainda, os subtemas da revolução, da reforma e da governação: “Sobre a revolução tenho dúvidas mínimas, a reforma dúvidas médias e sobre a governação tenho imensíssimas dúvidas.”
Na apresentação, foi possível compreender o papel da ciência na concretização dos valores do 25 de Abril. José Manuel González-Méijome partilhou queo seu ensaio deixa a mensagem de que “a ciência é essencial para a manutenção da liberdade, por manter a sociedade mais informada”. O docente denunciou, ainda, a baixíssima taxa de investimento em Investigação e Desenvolvimento no PIB português. Outro autor, presente no público, garantiu que há cada vez mais sinais preocupantes de negação da ciência.
“Sobre a revolução tenho dúvidas mínimas, a reforma dúvidas médias e sobre a governação tenho imensíssimas dúvidas.”
Também misturados com o público, outros autores tiveram a oportunidade de intervir. Ana Gabriela Macedo salientou que “o livro tem algo de muito forte” e que perdurará no tempo graças à sua diversidade. Relembrou ainda o espírito de espalhar conhecimento por entre todas as áreas da Universidade do Minho, agradecendo a todas pela concretização “desta utopia, porque um livro é sempre uma utopia em aberto.”
Rui Vieira de Castro, Reitor da Universidade, transmitiu a ideia de que “a Universidade do Minho não é filha da revolução. Nasce no Estado Novo, por efeito dos setores mais progressistas. Aquilo que ela é hoje, e foi sendo nas últimas cinco décadas, é efeito da democracia”. No momento da celebração dos 50 anos do regime democrático como da instituição, “seria estranho não se pensar nas interações entre o desenvolvimento de ambos” acrescentou, sendo que o livro é uma forma de o fazer.
Por fim, Manuela Martins indicou as datas e locais das próximas apresentações de “Nos 50 Anos do 25 de Abril”: dia 28 de novembro na Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, e 5 de dezembro na Livraria Almedina, em Coimbra. A editora partilhou, ainda, o desejo de alargamento nacional e de promoção de debates em torno da obra por parte das escolas e institutos da Universidade do Minho.