No passado dia 11 de outubro, Charli xcx lançou o que mais parece uma elaborada resposta ao seu álbum BRAT do que um mero conjunto de remixes. Brat and it’s completely different but also still brat contém colaborações com grandes nomes na indústria da música.

Charli xcx via Instagram

Ainda antes do lançamento de BRAT, Charli já sugeria a possibilidade deste segundo disco, com a nova versão da faixa “Von dutch”, com A. G. Cook e Addison Rae. Bastante bem recebida pelo público, apesar de acrescentar pouco à original e dos vocais pouco atraentes de Addison. Pelo contrário, no segundo remix, “360” com Yung Lean e a icónica Robyn, é notável a química entre o trio bizarro e inesperado. A constante troca de versos entre os artistas é satisfatória e torna a faixa numa das mais divertidas do álbum.

Contudo, foi a segunda versão de “Girl, so confusing” que realmente surpreendeu os fãs com a sua genialidade. Na versão original, Charli fazia referência a sentimentos confusos relacionados a alguém que os ouvintes suspeitavam ser a cantora Lorde. A teoria foi confirmada quando a artista foi anunciada como colaboradora no remix da faixa. É, essencialmente, uma conversa entre ambas, trazendo à tona emoções suprimidas e apresentando uma crítica ao impacto da indústria musical nas artistas femininas.

“Talk talk” com Troye Sivan, artista que acompanhou Charli na sua mais recente tour, é energética e sedutora. No entanto, foi “Guess”, com Billie Eilish que curiosamente conquistou as massas. Apesar de já ter angariado mais de 300 milhões de reproduções nas plataformas de streaming, a letra erótica e sugestiva e a batida repetitiva desta faixa dance eletrónica deixaram mais a desejar.

Algumas faixas como “Apple”, com The Japanese House, “So I”, com A. G. Cook e “365”, com Shygirl prometem entretenimento, apesar de efémero. O álbum combina músicas memoráveis com outras que, após uma primeira audição, são facilmente esquecidas. Porém, é pertinente destacar as “obras de arte” que compõem este álbum.

Após Charli xcx anunciar as colaborações que iriam fazer parte deste projeto, ficou claro qual era o mais esperado. E, sem surpresa alguma, “Sympathy is a knife” com a especialista do pop, Ariana Grande, excedeu as expectativas, tendo colecionado 38 milhões de reproduções no primeiro mês. A letra é cativante, direta e retrata a complexidade da fama. As artistas enfatizam a pressão mental que acompanha o sucesso, as dificuldades das relações interpessoais e as invasivas opiniões do público.

“Everything is romantic” com a americana, Caroline Polacheck e “Rewind” com o rapper sueco, Bladee são as duas faixas mais subvalorizadas de todo o disco. “Everything is romantic” é uma obra perfeita e cuidadosamente elaborada. A batida art pop sombria e os vocais suaves quase sussurrados, criam uma atmosfera hipnótica e melancólica. Os versos de Polacheck pintam uma imagem romantizada da vida urbana e as vozes desta dupla entrelaçam-se maravilhosamente.

Em “Rewind”, o ouvinte vivencia uma perfeita mistura de vozes numa batida atmosférica inovadora. Charli e Bladee apelam à intensa vontade de voltar atrás no tempo. Revelam sentir imenso stress e ser negativamente autocríticos ao tentar navegar a fama recém-descoberta. Os estilos contrastantes dos vocais, aprimorados pelos efeitos glitch e robótico, deram origem a uma construção sonora como nenhuma outra.

Brat and it’s completely different but also still brat é um bom apêndice para obra original. Uma parte do álbum proporcionou, ao ouvinte, uma experiência divina e única, enquanto a outra ficou perdida num patamar medíocre.