Vice Versa é o terceiro e mais recente álbum da banda lisboeta, Ganso. Lançado a 11 de outubro de 2024, conta com a colaboração de Domingos Coimbra, membro da banda portuguesa, Capitão Fausto, e de Anthony Cazade, engenheiro musical que se encontra por detrás de alguns trabalhos dos célebres Arctic Monkeys e Nick Cave.

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De facto, os Ganso apresentam-nos um álbum deveras homogéneo, onde as 11 faixas se interligam devido à sua produção mexida e animada e às suas letras robustas.

“Papel de Jornal” é o single de abertura desta viagem pelo indie português. Começa com um timbre provocatório e ambicioso, combinando perfeitamente com a misteriosa guitarra. Afirma que não deve nem quer nada de ninguém (“Eu não devo nada a ninguém”), uma vez que é um ser livre, que pode cantar e escrever tudo o que quer. É, por isso, uma excelente escolha para tema inicial, pois dita o mote musical que Vice Versa segue: uma curiosa mistura entre o indie tuga como o conhecemos com uma pitada de rock português dos anos 80.

O segundo track, Fetiche Fonético, é, talvez, por coincidência ou não, o segundo single que a banda lançou. É efetivamente um feat entre os Ganso e o duo italiano, Le Feste Antonacci, em que os dois idiomas se interlaçam com uma produção bastante peculiar. Ao mesmo tempo que ouvimos sons românticos, percebemos outros bastante agudos, que “fazem comichão” no nosso ouvido. Pode, porventura, ter algum tipo de relação com a letra que, apesar de amorosa, é também uma declaração vulnerável. Nela descreve-se um desejo e adoração pela “pronúncia do Norte”, que é mel para os ouvidos do compositor. Apelida, assim, essa singular atração de “fetiche fonético”.

Botas a Brilhar é a quarta faixa e carrega consigo uma inexplicável nostalgia da música disco das décadas de 70 e 80. Com uma guitarra funky e um piano sintetizado, a canção torna-se no perfeito cenário para dançar com macacões brilhantes e extravagantes calças à boca de sino.

Todavia, o álbum não é apenas composto por faixas repletas de euforia. Tu e Eu é, sem dúvida, um exemplo disso, pois segue a sua própria norma: a típica balada amorosa. Com uma batida lenta e até melosa, João Sala, vocalista da banda, reforça a constante repetição do “tu e eu”, uma anáfora que enfatiza a beleza da união das duas pessoas, que, no final de tudo, apenas se amam (“No final/ Não somos mais que / Tu e Eu”).

“Nos anos 20” é certamente a canção com que o povo português se vai relacionar, especialmente os mais jovens. Numa junção de beats divertidos e de harmonias subtis, mas interessantes, os Ganso discutem sobre a típica lengalenga do “Ai no meu tempo é que era”. Tornam, por isso, o track numa refutação a estas populares afirmações ao concluir “que afinal se vive bem melhor / nos anos 20”. Para além disso, criticam aqueles que desejam voltar a viver como no passado, argumentando que se “mudam as ideias” e afirmando que a liberdade de agora é, sim, uma relíquia (“Quem lamenta que hoje não se pode dizer nada/ Note que a verdade é que nunca se disse tanto”).

Por último, era indispensável honrar a penúltima faixa,Nada Resta”. Uma vez que, para alguns, pode ser considerada uma filha da discografia dos Capitão Fausto, com alguns traços do icónico piano de “Hung up”, da Madonna. Deste modo, pode ser adicionada à lista de músicas de conforto de muitos, pois a última parte, bastante suave e terna, é absolutamente hipnotizante.

Concluindo, Vice Versa é, sem dúvida alguma, um herdeiro da vasta música portuguesa. Comprovando a incrível qualidade do indie e do rock nacionais!