Os grupos culturais da Universidade do Minho juntaram-se em prol de reivindicações por melhores condições, criticando a falta de apoios dados pela AAUM.
Decorreu este sábado, dia 30 de novembro, a Récita do Primeiro de Dezembro, organizada pela Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), que visa celebrar a Restauração da Independência de 1640. O Theatro Circo encheu-se de 17 grupos culturais que, em uníssono, transformaram a celebração num ato de denúncia, expondo as precárias condições em que estão inseridos.
A noite iniciou com uma homenagem ao aluno do segundo ano de teatro da Universidade do Minho, que faleceu recentemente. Os apresentadores destacaram a importância desta Récita como “especialmente memorável”.
As duas tunas vimaranenses, a Afonsina – Tuna de Engenharia da Universidade do Minho – e a Tun’Obebes – Tuna Feminina de Engenharia da Universidade do Minho -, deram o pontapé inicial da noite, subindo juntas ao palco. Com um repertório que incluiu clássicos como “Dizer adeus”, “Adeus, Adeus” e “Pica do 7”, acompanhado da performance de pandeiretas e estandartes, encantaram a plateia. Num momento irónico, onde dois membros entraram em palco vestidos com coletes amarelos, simbolizando o perigo que correm ao ensaiar em espaços sem condições, fizeram uma chamada de atenção para a realidade vivida pelos grupos culturais.
De seguida, foi a vez dos Jogralhos – Grupo de Jograis Universitários do Minho – que apresentaram um espetáculo de humor satírico direcionado à AAUMinho. O grupo criticou os mais recentes acontecimentos, como a inundação do bar académico e o cancelamento do sarau cultural prometido em setembro. Questionaram também os estudantes pela responsabilidade que têm nas eleições, ao dirigirem todos os anos o voto à mesma lista. Frases como “obrigada Isaías por não fazeres nada de mais” e “porta-te bem Guedes” foram algumas das mais memoráveis da atuação.
A percussão marcante dos iPUM – Percussão Universitária do Minho -, a melodia envolvente da Literatuna – Tuna de Letras da Universidade do Minho – e a tradição da Augustuna – Tuna Académica da Universidade do Minho – resultaram numa fusão memorável. Os bombos, as pandeiretas e a gaita de foles ecoaram ao som de clássicos como “Anda a estragar-me os planos”, “Saltimbanco” e “Olha o velho”, contagiando o público com a sua presença. Este trio criticou também as condições das salas de ensaios, frisando que os estudantes têm de protestar os seus direitos.
Seguiu-se o CAUM – Coro Académico da Universidade do Minho – e o GMP – Grupo de Música Popular – numa “mistura do tradicional com a cultura”. Ao som de “Ora aperta, amor”, “Senhora do Almortão” e “Somebody to love“, conquistaram a plateia. Num momento mais sério, aproveitaram também a oportunidade para denunciar a falta de apoio da universidade e da Associação Académica aos aos grupos culturais, destacando a promessa não cumprida da construção da nova sede da AAUMinho no campus de Gualtar há quase três décadas.
A Tun´ao Minho – Tuna Académica Feminina da Universidade do Minho – e a Azeituna – Tuna de Ciências da Universidade do Minho – transportaram a plateia para um universo de alegria e tradição, brindando-a com o seu espetáculo de estandartes e pandeiretas, ao som de “Los tontos”, “Rancho fundo” e “Vais partir”. Estes grupos manifestaram, inclusive, as suas indignações, denunciando a falta de contributos por parte da AAUM e da universidade e a ausência de representantes da AAUM no festival da Tun’ao Minho, o Tunão. Esperam ainda que a nova direção da associação académica “respeite a cultura da universidade”.
O espetáculo prosseguiu com a atuação da Gatuna – Tuna Feminina Universitária do Minho – e do SINA – Grupo de Fados da AAUM. Para começar, a Gatuna expôs, de forma irónica, as cheias na sua sala de ensaios e o prejuízo que teve com o estrago de grande parte dos seus instrumentos. De seguida, a combinação das vozes e instrumentos criou uma atmosfera única e inesquecível, com destaque para as canções “Braguesa”, “O menino e a cidade” e “Tu me acostumbraste”.
Os Bomboémia – Grupo de Percussão da Universidade do Minho – levaram o público ao rubro com a sua energia contagiante. Com o seu tema mais conhecido, “Chula”, fizeram com que o chão do Theatro Circo tremesse. A apresentação da sua mais recente música, “Barbatana”, iniciou ao lado da plateia, proporcionando uma reação única nos espectadores. Celebrando 20 anos de história, destacaram o primeiro de dezembro, relembrando que “sem ele ninguém estaria aqui a celebrar a cultura”. Não tendo ficado indiferentes ao clima de revolta, denunciaram as condições precárias do seu espaço de ensaios que, isento de ventilação, torna os treinos inviáveis.
A Opum Dei – Ordem Profética da Universidade do Minho – destacou, por meio de um poema, a importância do primeiro de dezembro e da luta pela libertação. Este grupo tem sido uma voz dissonante, criticando abertamente, ao longo dos anos, a AAUMinho e a universidade pelas suas falhas e inações. Posto isto, opuseram-se aos restantes grupos culturais dizendo que serão “sempre a cara da revolta, a cara dos inconformados” e que, independentemente das circunstâncias, os seus “ideais não tremem”. Assim, de forma paródica e satírica criticaram, entre gargalhadas do público, as falhas da gerência da AAUMinho, o cancelamento do sarau cultural, o valor das propinas, a subida dos preços da cantina e a gestão do atual governo. Terminaram a atuação com a sua música mais conhecida “Trator Amarelo”.
Para terminar esta longa noite de atuações, foi a vez da TUM – Tuna Universitária do Minho – e da TMUM – Tuna de Medicina da Universidade do Minho – se unirem num espetáculo memorável. Ao som da famosa serenata “Tunalmente Molhado”, de “Fragata”, de “Forastero” e de “Adeus é sempre adeus”, deliciaram a plateia com um esquema de estandartes único e delicado, destacando-se dos restantes.
Terminada a atuação, Pedro Pinto, membro da TUM, chamou ao palco um representante de cada grupo cultural, de forma a alertar o público sobre a situação alarmante que estes vivem. Exprimiu que é inadmissível que “uma universidade que se orgulha da inovação e da excelência” atribua este tipo de espaços “àqueles que a representam”.
Reivindicou, em nome daqueles que estavam no palco, “uma relação mais próxima e de mútuo respeito entre os membros dos grupos culturais, a AAUM e a universidade” e “a garantia de uma solução para as condições precárias da sede”. E assim, a tradicional celebração da Restauração da Independência de 1640, no Theatro Circo, ganhou novos contornos, com denúncias e reivindicações.
Editado: 5/12/2024