Sweetpea estreou-se a 10 de outubro de 2024 na Starz e tem sido desde então um dos títulos mais provocadores e falados da temporada televisiva. Adaptada do romance homónimo de C.J. Skuse, a série é realizada por Ella Jones e escrita por Kirstie Swain. Protagonizada por Ella Purnell, Sweetpea é um thriller que combina humor negro, introspeção psicológica e críticas mordazes à sociedade moderna.
A série centra-se em Rhiannon, uma jovem aparentemente comum que leva uma vida dupla. Vive na dualidade entre uma funcionária quase invisível e uma justiceira imprevisível. Por trás do tom sarcástico e da violência latente, a série oferece uma reflexão profunda sobre isolamento, desejo de controlo e as pressões que recaem sobre as mulheres na sociedade contemporânea.
O isolamento de Rhiannon é retratado tanto no seu contexto social – uma vida marcada por relações superficiais e desconexão emocional – como no seu interior, onde enfrenta uma batalha constante contra sentimentos de inadequação e raiva reprimida. As experiências são amplificadas pelo desejo de controlo sobre uma vida que lhe parece escapar entre os dedos, um reflexo da pressão por “ter tudo sob controlo” que tantas vezes recai sobre as mulheres. A série também destaca como tais pressões se manifestam através de padrões inatingíveis de perfeição, tanto em termos profissionais como pessoais, perpetuados pela sociedade moderna.
A interpretação de Ella Purnell é o coração da série. A atriz confere à protagonista uma complexidade que oscila entre vulnerabilidade e brutalidade. Purnell consegue equilibrar o lado mais sombrio de Rhiannon com momentos de humor autodepreciativo, criando uma personagem que, embora moralmente ambígua, é fascinante.
A realização de Ella Jones é outro ponto forte. A cineasta explora contrastes visuais para reforçar os temas centrais da série, alternando entre cenas vibrantes e câmaras claustrofóbicas, que traduzem a mente fragmentada da protagonista. Filmada em locais como Southend-on-Sea, a estética da série captura tanto a beleza como a banalidade da vida quotidiana -um reflexo da própria luta interna da protagonista. Surge tambémuma preocupação em explorar relações interpessoais complexas, especialmente a dinâmica entre Rhiannon e Julia (Nicôle Lecky), a sua rival de longa data. Esta relação descreve-se como perigosa e imprevisível, com ambas as personagens a oscilar entre aliança e antagonismo.
O argumento da série é ambicioso. Os espetadores simpatizam com Rhiannon, partilhando a sua dor e traumas passados, apenas ao assistir aos mesmos. A brutalidade e a história crua são aspetos que fazem parte da intenção provocadora da narrativa, que desafia convenções ao não oferecer respostas fáceis ou redentoras.
Comparada a obras como Fleabag e The End of the F**ing World*, Sweetpea não hesita em explorar as profundezas do comportamento humano com uma abordagem fria e, por vezes, desconfortável.
Sweetpea destaca-se pela sua originalidade e coragem ao desconstruir estereótipos. Não é uma série para todos os gostos, mas para aqueles que apreciam uma boa dose de ironia sombria e questionamentos morais, é uma experiência imperdível. Com um final que deixa o espectador ansioso por mais, a renovação para a segunda temporada promete expandir ainda mais este universo peculiar e perturbador.
Título Original:Sweetpea
Realização: Ella Jones
Argumento: Kirstie Swain
Elenco: Ella Purnel, Nicôle Lecky
Reino Unido
2024