Com as constantes transformações tecnológicas dos últimos tempos, observamos uma vida em sociedade fortemente dominada pelo digital. Cada vez mais, tais inovações têm transformado as formas de comunicação e visualização de conteúdos, abrindo espaço para novos modelos de consumo.

Apesar da era digital nos ter proporcionado uma infinidade de oportunidades nas áreas da informação e do entretenimento, também traz consigo algumas questões sobre a precariedade da preservação global do património audiovisual. Plataformas como o Instagram e, principalmente, o TikTok têm cativado a atenção dos seus utilizadores  gradualmente, com vídeos banais e de curta duração.

Em primeiro lugar, podemos começar por compreender o conceito de património audiovisual com um olhar mais amplo. A sua definição resume-se ao conjunto de produções e registos que unem imagens ao áudio com o intuito de comunicar, informar ou entreter. Estes materiais tornam-se valiosos culturalmente à medida que carregam significados sociais e artísticos que refletem a identidade, a memória e o desenvolvimento da humanidade ao longo de toda a nossa história.

Com o surgimento e a popularização do TikTok, grande parte dos conteúdos audiovisuais de relevância foram deixados à deriva, quase que substituídos pela visualização de vídeos passageiros. Atualmente, observamos que a maioria dos jovens assiste cortes rápidos nas redes sociais durante longas horas diárias. Alguns deles consomem os conteúdos até mesmo numa velocidade ainda mais acelerada (2x), o que desvia o foco de uma vasta gama de materiais audiovisuais de qualidade e maior valor sociocultural.

Estamos cada vez mais expostos a estímulos visuais frenéticos e dinâmicos a partir de tais vídeos, imagens chamativas e textos reduzidos. Com a preferência por conteúdos projetados para captar a atenção momentânea e que exigem um menor esforço cognitivo, podemos acabar por negligenciar ou deixar de lado o verdadeiro património audiovisual.

A grande problemática de discussão surge no que toca à preservação desse património, sendo a principal preocupação o seu desaparecimento efetivo e o prejuízo cultural da sua perda para a humanidade. A consciência da necessidade da proteção desses conteúdos não é tão frequentemente perpetuada no mundo moderno, o que provoca a dominância do imediatismo e da superficialização do entretenimento sob as novas gerações.

Embora as novas redes sociais facilitem a democratização do acesso às diferentes formas de arte e cultura, contribuem também para a efemeridade de tais conteúdos. Um utilizador, por exemplo, que se encontra a explorar a página “Para ti” no Tiktok, pode visualizar um vídeo de 20 segundos para se entreter de forma imediata. Após alguns minutos, estará a deslizar o ecrã à procura de mais vídeos, podendo nem sequer se lembrar do que consumiu naqueles instantes anteriores.

As obras audiovisuais, por outro lado, exigem maior tempo para serem apreciadas e compreendidas na sua totalidade. Os filmes clássicos, documentários ou outras produções culturais de pertinência dependem do interesse mais profundo de atenção do telespetador para a sua valorização completa. Na era digital estes são, cada vez mais, substituídos por “trends” virais e vídeos repetitivos nas redes sociais. A preferência por conteúdos rápidos torna-se crescente nesse sentido, com o foco na velocidade do consumo do imediato e da novidade, sem grande preocupação com o conteúdo.

Mais recentemente, o ponto de discussão levantado com frequência no que toca à temática é a partilha de conteúdos sem o devido crédito ou respeito pelos direitos do autor. Um trecho de um filme ou documentário, por exemplo, pode ser facilmente publicado em diferentes contas sem qualquer menção acerca dos seus criadores originais, facto que prejudica o reconhecimento da sua produção e continuidade para as próximas gerações.

A aposta no equilíbrio torna-se essencial para a preservação do património audiovisual. Para chamar a atenção dos mais jovens, a promoção dos conteúdos audiovisuais nas plataformas digitais torna-se uma boa maneira de cativar um maior interesse. “Wicked” é um exemplo de sucesso dessa combinação de interesses, sendo este um filme que teve a sua divulgação com presença marcada no Tiktok desde o primeiro momento da sua estreia. A promoção do material realizada com excelência foi responsável pela criação de dezenas de  milhares de vídeos em “trends” e visualizações na rede. Todo este trabalho de comunicação na rede provocou o interesse do público em saber mais sobre o filme, apoiando o alcance de grandes números nas bilheteiras.

As novas tecnologias são ferramentas poderosas para a disseminação e democratização do acesso à informação e à cultura. Apesar disso, podem representar crescentes desafios à preservação do património audiovisual a nível mundial. O equilíbrio do uso das plataformas digitais e do consumo das produções cinematográficas torna-se essencial para a conservação de uma identidade cultural fortemente estabelecida ao longo da história da sociedade. Assim, é fundamental a conscientização global acerca da importância do património audiovisual para a formação da memória social coletiva, de modo a destacar o seu desaparecimento como perda irreparável para as gerações futuras.