A escritora sul-coreana Han Kang, reconhecida pelo seu trabalho premiado em A Vegetariana, retorna com Lições de Grego, uma obra que é, ao mesmo tempo, delicada e profunda. Em 200 páginas, exploram-se temas universais de dor, perda, linguagem e conexão humana. A vencedora do Prémio Nobel desconstrói noções tradicionais de comunicação e identidade, enquanto mergulha na exploração intimista do trauma.

Gary Doak / eyevine / Redux

O romance é centrado numa mulher cuja jornada é marcada por eventos traumáticos, que a conduzem numa busca existencial e linguística. Num ato de reinvenção, decide estudar grego antigo, uma escolha que parece, à primeira vista, arbitrária, mas que carrega um profundo simbolismo. O grego antigo, uma língua morta, é a ponte que a protagonista escolhe para reencontrar a própria voz.

Han Kang utiliza uma linguagem evocativa e fragmentada para transmitir a experiência emocional da protagonista. Os espaços entre as palavras e as pausas na narrativa ecoam o silêncio e a desconexão que a personagem sente com o mundo. Esta abordagem estética é uma das marcas do estilo da autora, que frequentemente privilegia a subtileza e o subtexto.

Entre os temas que emergem, destaca-se a tensão entre a perda/luto e a tentativa de reconstrução. A escolha do grego antigo reflete um desejo de aceder algo primordial e universal, uma raiz comum que transcende as barreiras do tempo e da cultura. Questiona também o significado da linguagem: será uma forma de cura ou apenas mais uma maneira de fuga da realidade?

“A linguagem, em comparação, é uma maneira infinitamente mais física de tocar. Ela move pulmões, garganta, língua e lábios, ela vibra o ar enquanto voa em direção ao ouvinte.”

Outro aspeto central é a relação entre o corpo e a mente. A escritora explora o corpo como um lugar de memória e de sofrimento, mas também como um meio de resistência. A protagonista tenta entender o seu corpo e a sua dor através da língua, traçando um paralelo entre o físico e o simbólico.

Embora a narrativa seja profundamente pessoal, carrega uma universalidade amplamente reconhecida nos livros de Kang. A autora representa a dor como uma experiência inevitável da condição humana, mas também como um ponto de partida para uma transformação interna. É através dessa experiência que a protagonista encontra, senão uma resposta, pelo menos uma forma de continuar.

Lições de Grego é uma obra que desafia o leitor a refletir sobre os limites da linguagem e a profundidade do trauma humano. Han Kang entrega uma história que é tanto intelectual quanto visceral, um convite para contemplar a vulnerabilidade e a resiliência que definem a existência humana. O livro é uma experiência literária que ecoa muito além das suas páginas, reafirmando Han Kang como uma das vozes mais poderosas da literatura contemporânea.

“Se a neve é ​​o silêncio que cai do céu, talvez a chuva seja uma frase sem fim.”