In Rainbows é o sétimo álbum da célebre e influente banda britânica, Radiohead. Lançado a 10 de outubro de 2007, compõe-se em dez faixas, onde o rock alternativo e os sons eletrónicos se entrelaçam.

J. Scott Applewhite / AP

Sendo bastante aclamado não só pelos fãs mas também pelos críticos, In Rainbows espelha a genialidade musical da banda. É, por isso, um projeto ímpar, onde a fluida e inesperada produção se junta à profundidade da escrita.

“15 Steps” abre o álbum com um interessante ritmo de palmas distorcido, umas “palmas eletrónicas”. Quando ouvida pela primeira vez, é um pouco desconfortável e habituarmo-nos a este compasso 5/4 arrasta-nos para fora da nossa rotina auditiva do compasso 4/4. Contudo, a entrada da guitarra elétrica traz-nos algum conforto, algo caloroso.

Apesar da batida supostamente leve e divertida, a letra toma outro rumo. Refere-se ao sentimento de perceção que o narrador tem da inevitabilidade da morte. Sente, por isso, uma certa ansiedade e um certo medo, culpando-se de todos os acontecimentos e atividades fracassadas da sua vida (“How come I end up where I started?/ How come I end up where I went wrong?”).

A terceira faixa quebra a sequência de músicas energéticas que a banda nos apresenta. De facto, “Nude”, um dos singles de In Rainbows, revela-se uma melodia que nos carrega (de corpo e alma) de uma forma bastante subtil, suave e leve. Abrindo com um som angelical alternativo, exibe o lado mais agudo da voz do vocalista Thom Yorke. Os seus quase falsetos permanecem ao longo dos quatro minutos, descrevendo as consequências de um mundo onde apenas uma opinião é partilhada por todos (“Don’t get any big ideas/ They’re not gonna happen”). Deste modo, o narrador avisa que diferentes visões e ideias serão reprimidas e inaceitáveis (“You’ll go to hell/ For what your dirty mind is thinking”)

“Weird Fishes/Arpeggi” é, sem dúvida, um perfeito exemplo da criação de uma aura musical harmoniosa. A incrível percussão, reconhecida à primeira batida, o baixo escondido, a vibrante guitarra: tudo se liga perfeitamente, tudo se encaixa, tudo se completa. Para além disso, a faixa conta com um facto curioso. A escolha musical de executar uma sucessão de notas de um acorde, isto é, um arpejo, é referenciada no título da música.

A quinta faixa é uma paragem obrigatória não só na audição de In Rainbows, mas em toda a discografia dos Radiohead. É uma música que poderia ser descrita como um “slow burn”, que queima a alma lentamente.

Efetivamente, o baixo é um dos protagonistas, assim como a incrível e profunda voz de Thom. Repete o mesmo verso ao longo de toda a música (“You’re all I need”), revelando a sua necessidade de estar e ter esta pessoa de que canta. Através de metáforas, afirma esperar por ela, sendo impossível escapar o seu efeito. Contudo, este amor-ou até obsessão – pode ser percecionado como algo irracional, desesperante e cegante, uma vez que o narrador confessa que apenas se foca na sua amada, pois não existe mais ninguém (“I only stick with you because there are no others”).

O final é deveras arrebatador e impactante devido à imersão de um piano intenso que se une à voz suplicante de Thom. Este contradiz-se repetidamente: ao mesmo tempo que questiona a  relação (“It’s all wrong”), declara sê-lhe também necessária  (“It’s all right”).

A faixa número nove, primeiro single do projeto, é a conhecida “Jigsaw Falling Into Place”.  A canção descreve um estilo de vida caótico, onde um grupo de pessoas tenta arranjar soluções imediatas para se esquecer de algo. Com um beat aditivo, a canção torna-nos seres dançantes, submersos na loucura e euforia da produção e no tom misterioso e frenético do vocalista.

Por último, a última faixa, “Videotape”, retoma o som do piano, construindo, assim, uma esfera vulnerável, nua e frágil à volta de quem o ouve. No seu timbre trémulo e sensível, Thom afirma que, quando chegar ao céu, as suas gravações num videogravador (“videotapes”) serão a forma de as pessoas o relembrarem (“When I’m at the pearly gates/ This’ll be on my videotape, my videotape”).

Os Radiohead são merecedores de aplausos. Criam uma batida pausada que assombra toda a música, que representa o som de uma fita cinematográfica a rodar. Contudo, encontra-se fora de controlo, presa num loop infinito.

Termina, então, a canção confessando que o dia da sua morte foi o dia mais perfeito, uma vez que, quiçá, terá descoberto a beleza da vida (“Beacause I know today has been/ The most perfect day/ I’ve ever seen”).

O álbum fecha com um som angustiante, repetitivo e taciturno, que emocionará qualquer um.

In Rainbows equivale a utilizarmos imprescindivelmente palavras-chave como a inovação, a criatividade, a originalidade, a raridade, e a mais importante, a emoção.