Este ano todos os anos
Este ano vou ser mais saudável.
Este ano vou ser mais organizada.
Este ano vou ser mais consistente.
Este ano vou ser muito mais.
Com o novo ano, colocamos várias expectativas aos ombros, esperançosos por chegar a dezembro livres do peso de uma meta não cumprida.
Porém, quando nos encontramos novamente na partida da pista que percorre o Sol, percebemos que os ombros ainda pesam, desta vez mais um pouquinho. Já estamos habituados, por vezes as expectativas crescem, outras vezes o peso simplesmente aumenta, descontente com a estagnação.
Porém, não deixemos que este faça também pesar os cantos da boca, ou até mesmo a mente.
Abandonar a ideia de que peso nos define e perceber que ele que nos move é o primeiro passo para corrigir a postura e evitar desconfortos desnecessários.
Em vez de idealizarmos uma utopia, livre de pesos a carregar no fim do ano, encaremos janeiro como a receção de um consultório, onde racionalizamos o futuro que nos espera, adequando-nos ao que é real e fazível. Assim, saberemos que dezembro acarreta consigo algum peso, mas este é mais confortável aos ombros, encorajador até e, acima de tudo, sinal de que somos seres carregados de ambições
Vive, dizes, no presente
No meio de tantos desejos, vontades e expectativas que nos colocam numa correria pelo futuro, é importante relembrar o tempo que efetivamente é certo, mas fugaz, caso o deixemos escapar-se por entre os dedos – o presente.
Somos um mosaico das pessoas com quem nos cruzamos ao longo da vida. Somos um quadro pincelado pelas nossas memórias, umas mais fortes, outras percetíveis apenas aos que olham de perto.
Logo, tão importante quanto calcular o peso que queremos aos ombros é o ato de apreciar, observar e inspirar o que nos rodeia, quem nos rodeia.
Os anos passam e levam consigo amores, sorrisos, choros, sufocos, sem nos avisar.
Não conseguimos combater a inevitabilidade do seu caminho, é verdade, mas somos capazes de os sentir, apalpar, cheirar e saborear.
Talvez o seu sabor seja agridoce, talvez venha acompanhado de algumas gotas salgadas. Uma coisa é certa, saberão a pouco e a muito ao mesmo tempo.
Entre viver com um sabor doce mas amargurado na ponta da língua ou um vazio no estômago, não é preferível sentir algo?
Por Laura Vale e Maria Pimenta