Sempre foi interessante a forma como o pânico em torno do chamado “bug do milénio” marcou uma geração. O receio de que os sistemas informáticos colapsassem à meia-noite de 31 de dezembro de 1999, devido à forma como as datas eram armazenadas, levou a previsões de caos global.

Y2K, realizado por Kyle Mooney, parte desse medo e transforma-o numa comédia de desastre nostálgica. O filme, lançado a 6 de dezembro de 2024, combina humor, ação e caos, capturando o espírito dos anos 90 enquanto satiriza os receios da época.

A história segue um grupo de adolescentes que, na véspera do ano 2000, vê a tecnologia enlouquecer e virar-se contra a humanidade. Computadores, micro-ondas e até brinquedos eletrónicos tornam-se assassinos impiedosos, forçando os protagonistas a lutar pela sobrevivência. Jaeden Martell, Rachel Zegler e Julian Dennison entregam performances carismáticas e sustentam bem a narrativa, ainda que por vezes o filme se perca no meio do caos.

Visualmente, Y2K acerta na estética retro-futurista, com a cinematografia de Bill Pope, conhecido por The Matrix, a recriar na perfeição o clima da época. No entanto, por mais divertido que o conceito seja, nem sempre a execução funciona. O filme começa como uma típica comédia juvenil, repleta de referências aos anos 90, Tamagotchis, Billy Blanks, mensagens do AIM, mas depois mergulha no terror exagerado, sem grande equilíbrio entre os géneros. O ritmo oscila demasiado e, a certa altura, torna-se uma série de situações desarticuladas em vez de uma narrativa fluida.

Os momentos de humor e horror mais exacerbados são, sem dúvida, os pontos altos, e alguns momentos de massacre inicial são caóticos no bom sentido. No entanto, quando a ação se desloca para a floresta e o filme se torna uma sequência de referências soltas da época, perde se um pouco o fio à meada. Até a participação de Fred Durst, cantor da banda dos anos 90 Limp Bizkit, acaba por reforçar a sensação de que o filme se apoia demasiado na nostalgia em vez de construir uma sátira bem fundamentada.

Assim, Y2K oferece uma experiência empolgante, embora inconsistente. Há momentos de criatividade e sequências de humor bem conseguidas, mas falta-lhe um fio condutor mais sólido para manter tudo coeso. Para quem cresceu nos anos 90 ou para os mais nostálgicos vale a pena. Para os restantes, talvez seja apenas uma curiosa experiência de género que não chega a cumprir todo o seu potencial.