Um gato, um cão, uma capivara, um lémure e um pássaro entram num barco. Não é uma piada má, é o enredo de Flow – À Deriva, o filme que conquistou o Oscar para Melhor filme de animação. Lançado a 20 de fevereiro e realizado por Gints Zilbalodis, é o primeiro filme letão a ser galardoado pela academia.
No filme, o gato independente, vê-se obrigado a procurar refúgio com outros animais quando uma enchente transforma o seu mundo. Esta situação faz com que personalidades tão diversas precisem de se unir para enfrentar os perigos de um novo ambiente. No barco que navega por paisagens inundadas, eles exploram os perigos de sobreviver neste novo mundo enquanto aprendem um bocadinho mais sobre si mesmos.
A beleza de Flow está, em grande parte, nos detalhes visuais e na forma como o som conta a história. O uso de reflexos, seja nas janelas, na água ou nos espelhos, não é apenas um recurso estético, mas uma maneira inteligente de abordar as emoções das personagens. Cada som, desde os barulhos do barco até aos pequenos ruídos do ambiente, é cuidadosamente trabalhado para compensar a ausência de diálogos. Desta forma, as personagens, através das suas expressões faciais distintas, dizem muito sem precisar de palavras.
Entre as cenas que lembram o estilo de um videojogo, um dos momentos mais marcantes do filme é o momento de protagonismo do pássaro. Flow vai além da simples aventura animada e transforma-se numa metáfora para a morte e o renascimento.
Apesar do visual deslumbrante, o filme torna-se entediante em certos momentos. Os minutos mais calmos levam a uma profunda reflexão sobre o papel de cada animal, mas faltam episódios de tensão que pudessem dinamizar a narrativa. A maior parte do suspense concentra-se nas cenas em que o gato cai na água, momentos que, embora tragam um breve susto, perdem força por serem sempre seguidos pela previsibilidade da sua recuperação.
O filme começa com personagens que fogem uns dos outros, mas termina com eles correndo juntos e cooperando para se salvarem, simbolizando a força que surge quando se aprende a lidar com as diferenças. É uma história que, de forma simples e direta, mostra que as adversidades podem nos aproximar e revelar a verdadeira essência de cada um.
Flow é, sem dúvida, uma animação que encanta pelo visual e pela construção de uma história de união e empatia. Contudo, a falta de momentos de tensão mais marcantes, acaba por comprometer o ritmo e a emoção em certos pontos da narrativa. Mesmo com essa pequena falha, o filme destaca-se como uma experiência inovadora e sensível, convidando o espectador a refletir sobre a importância de se conectar com o outro.
Título Original: Straume
Realização/Diretor: Gints Zilbalodis
Argumento: Gints Zilbalodis, Matiss Kaza e Ron Dyens
2024
Letónia
Março 26, 2025
Esse filme é um acalanto por ser praticamente meditativo. Assim como nos filmes do Studio ghibli, os momentos que “nada acontece” levam a um reflexão e desenvolvimento dos personagens. Realmente não é para todo mundo, principalmente para quem só está acostumado com animações que tentam prender a audiência com explosões e ação e todas as cenas.