Os Men I Trust afirmaram-se na última década como uma das bandas mais consistentes no cenário indie, graças à sua sonoridade suave e atmosfera lo-fi. O trio canadiano construiu uma identidade própria discreta, mas inconfundível.

Men I Trust. Photo courtesy of the band.

Depois do sucesso de Forever Live Sessions (2020), a banda regressa com o segundo volume desta série de gravações ao vivo. No entanto, se o primeiro álbum se destacou pela frescura e reinvenção subtil de temas antigos, Forever Live Sessions, Vol. 2  surge como um exercício mais seguro, onde a familiaridade se sobrepõe à inovação.

O álbum percorre grande parte do catálogo da banda, com versões que priorizam a simplicidade. Temas como “Serenade of Water” ganham uma nova vida através de arranjos mais orgânicos. Enquanto “Always Lone” se destaca pelo groove da linha de baixo, um dos pontos mais fortes da banda. A escolha destas músicas não é aleatória, mas sim uma reafirmação da estética minimalista que tem vindo a definir o grupo ao longo dos anos.

A produção mantém-se cristalina, e a mistura reforça a proximidade entre banda e ouvinte. Apesar disso, a abordagem cuidadosa e pouco arriscada faz com que algumas faixas soem mais como repetições do que como interpretações renovadas.

Entre as várias faixas do álbum, “Billie Toppy” destaca-se como uma lufada de ar fresco. A canção, originalmente lançada como single, foge da atmosfera contemplativa do resto do álbum. Traz uma energia pulsante que nos transporta para a musicalidade dos anos 80. As linhas de baixo mais acentuadas e os sintetizadores discretos conferem-lhe uma vitalidade que contrasta com o tom etéreo predominante.

Além disso, há algo de misterioso e sedutor na interpretação de Emmanuelle Proulx, que confere à faixa uma personalidade singular dentro do alinhamento. Apesar de ser uma das músicas mais subestimadas do álbum, revela uma faceta mais ousada dos Men I Trust, deixando no ar a possibilidade de um caminho sonoro ainda por explorar.

Embora a qualidade técnica da banda seja inegável, a ausência de surpresas torna o álbum menos marcante. Ao contrário do primeiro volume, que conseguia trazer uma energia mais crua para as versões ao vivo, Forever Live Sessions, Vol. 2  parece demasiado preso ao molde original. Ainda assim, a atmosfera intimista e a voz suave de Emmanuelle Proulx continuam a exercer o seu encanto, criando pequenos momentos de suspensão no tempo.

Forever Live Sessions, Vol. 2 é um disco que mantém a identidade da banda, mas não acrescenta muito ao percurso dos Men I Trust. Se por um lado reconforta os ouvintes habituais com versões cuidadas e uma produção impecável, por outro, deixa a sensação de que a banda poderia ter explorado caminhos mais ousados.

Contudo, o álbum reforça a capacidade dos Men I Trust em criar um universo sonoro próprio, mesmo quando escolhem permanecer na zona de conforto. Para quem já acompanha a banda, este disco é mais uma viagem serena pelo seu universo musical. Para novos ouvintes, pode ser um ponto de entrada seguro, mas não necessariamente o mais surpreendente.