Lançado em 1986, The Moon and the Melodies junta os escoceses Cocteau Twins ao compositor norte-americano Harold Budd. É um álbum curto, com oito faixas, que foge daquilo que se esperaria de uma colaboração entre artistas com linguagens tão marcadas. A voz de Elizabeth Fraser, por exemplo, só aparece em metade das músicas. E mesmo nessas, não há letras nem refrões – apenas sons soltos e melódicos que funcionam mais como instrumento do que como narração.

Pitchfork

O ambiente é contido, quase suspenso. As guitarras etéreas de Robin Guthrie e os pianos minimalistas de Budd criam composições que não têm pressa de chegar a lado nenhum. Não há grandes mudanças ou explosões sonoras. Tudo acontece devagar, num tom calmo, quase sonhador. Pode parecer vago, mas não é. A força do álbum está justamente no que não se diz.

“She Will Destroy You” é talvez a faixa mais enigmática do disco. Tem uma atmosfera densa, quase eterna, que parece pairar no tempo. A voz de Fraser surge como um sussurro distante, acompanhada por uma base instrumental contida, mas tensa. É uma música que impõe respeito sem precisar de levantar o tom, intimidando mais pelo mistério do que pela intensidade. Fica no ar, como se nunca tivesse terminado verdadeiramente.

Entre as faixas cantadas, “Sea, Swallow Me” destaca-se por ser talvez a mais acessível e memorável. A melodia é hipnótica, a voz de Fraser sobressai mais do que nas outras músicas e o resultado acaba por ser uma das composições mais reconhecíveis do álbum. Sem recorrer a palavras compreensíveis, a música consegue transmitir uma emoção forte e duradoura.

The Moon and the Melodies pode passar despercebido ao lado de álbuns como Treasure (1984) ou Heaven or Las Vegas (1990), mas tem um lugar próprio na discografia da banda. Mostra como se pode fazer música emocional e envolvente sem voz no sentido tradicional, e como a ausência de estrutura pode, por vezes, ser a melhor forma de criar ambiente.

Apesar da leveza, não é um disco propriamente relaxante. Há um certo desconforto na forma como as músicas se estendem, como se estivéssemos sempre à espera de uma resolução que nunca chega. Tal detalhe pode afastar alguns ouvintes à procura de algo mais direto, mas é precisamente essa ambiguidade que torna o álbum tão especial. Cria-se espaço para o ouvinte preencher, sem impor um caminho.

Também é um trabalho que revela mais a cada audição. À primeira vista pode parecer plano ou distante, mas com atenção percebemos como cada faixa tem uma identidade subtil. Os detalhes estão na textura dos sons, nos ecos, nos silêncios entre notas. Não há pressa nem artifício. The Moon and the Melodies é música feita com cuidado e intenção, mesmo quando parece invisível.