Quase quatro anos depois do lançamento de In The Meantime (2021), Alessia Cara editou o seu 4.º álbum. Partilhado com o mundo no Dia de São Valentim, Love & Hyperbole promete um regresso surpreendente da cantora canadiana.

Universal Music Canada

O álbum apresenta 14 faixas ao longo de 45 minutos. É introduzido de forma alegre por “Go Outside!”, marcada pelo domínio da bateria no instrumental e uma melodia que fica na cabeça. A transição para “Left Alone” é notória, trazendo uma atmosfera muito mais tranquila.

Como se o ouvinte viajasse numa montanha-russa, a terceira faixa, “Dead Man”, introduz uma nova vibe, mais vingativa. Lançada em julho, foi o pontapé de saída para o projeto. De seguida, um silêncio de 10 segundos antecipa aquela que será uma das músicas mais bonitas de Alessia Cara. “Subside” tem tudo aquilo que faz com que uma balada se torne algo mágico: um instrumental envolvente e que se quer ter em repetição, principalmente à entrada dos violinos, uma voz emotiva e uma letra brilhante. Alessia canta sobre o passar do tempo e o luto pelos momentos que não duram.

Depois da profundidade que se sente ao ouvir “Subside”, a transição para “Run Run” parece custar um bocado. Porém, a música vale a pena pela alegria que volta a trazer, relembrando a primeira música do álbum. “Drive” segue o mesmo estilo, tendo uma melodia que é demasiado repetitiva, mas agradável. A faixa é indicada para a rádio.

Regressando a uma atmosfera mais calma, encontra-se “Get to You”. A música parece um pouco monótona até à surpreendente introdução de umas guitarras. “(Isn’t It) Obvious” deixa marca na memória desde o primeiro segundo. O videoclipe da música tem lugar numa galeria de arte, refletindo algumas das metáforas geniais presentes na letra, como “Os medos são apenas falsas criações/ Tão vibrantes como os pintamos”.

 

Com pouco mais de dois minutos, “Garden Interlude” não se apresenta como um interlúdio, mas como uma música bastante encantadora e nostálgica. O instrumental tem detalhes que o tornam ainda mais envolvente. “Nighttime Thing” parece uma mistura do que tem sido feito no panorama da música alternativa nos últimos anos. Nota-se possíveis influências de “Supalonely”, de Benee e Gus Dapperton, e, curiosamente, também de “Viva La Vida” dos Coldplay.

A 11.ª faixa, “Feels Right”, não tem nada que a destaque assim tanto, apesar da sua audição ser reconfortante. Ao contrário do que o título indica, “Fire”, que a sucede, é uma canção que continua o registo tranquilo. Com influências de música country no instrumental, é uma balada bastante agradável e emotiva para quem aprecia o género.

O acapella no início de “Slow Motion” capta de imediato a atenção. É talvez o melhor exemplo de RnB no álbum. A letra faz uma espécie de declaração com palavras muito bem trabalhadas. O projeto encerra em beleza com “Clearly”, uma música romântica e leve que faz jus ao título do álbum.

 

Se o último disco de Alessia Cara, In The Meantime (2021), era um claro 10/10 por todas as músicas se destacarem e transmitirem a sua mensagem facilmente, Love & Hyperbole peca um bocado por falta desse efeito memorável na maioria das faixas. O álbum eleva-se imenso graças à simples presença de “Subside” e à boa atmosfera geral. Contudo, nada invalida que deveria ter tido tanto destaque quanto os antigos hits da cantora. Dois meses depois do seu lançamento, a música mais ouvida não chega às 5 milhões de streams no Spotify e a grande maioria mantém-se por volta das 400 mil audições.