A atividade foi exclusivamente dedicada a mulheres e meninas a partir dos seis anos.

No dia 17 de maio, o gnration, em Braga, foi palco de uma oficina de breaking orientada pela atleta olímpica e b-girl Vanessa Marina. A iniciativa, inserida no projeto Cindy’s Sisters e com curadoria do festival First Steps, pretendeu promover a dança urbana como ferramenta de inclusão e empoderamento feminino.

Gratuita e aberta a todas as mulheres e meninas ​​a partir dos seis anos de idade, a oficina esgotou rapidamente, limitada a 25 participantes. Vanessa Marina aceitou o convite com o objetivo claro de “chegar ao maior número de pessoas possível” e tentar que sintam que “o break seja uma possibilidade de aprendizagem”. Para a atleta, bastava “tocar e interessar uma única pessoa” para considerar a sua missão cumprida.

A formação procurou criar um espaço seguro e inspirador, onde o breaking fosse acessível a todas, independentemente da experiência prévia. Vanessa reforça a importância de iniciativas como esta, que democratizam o acesso à dança urbana, porque “abrangem pessoas que nunca tiveram a possibilidade de experimentar a modalidade”.

Com um percurso marcado pela superação, a b-girl portuguesa é uma das representantes nacionais do breaking, modalidade que estreou por completo nos Jogos Olímpicos de Verão Paris 2024. “O percurso foi super difícil e exaustivo, mas recompensador. Nada se fez sem sacrifício, disciplina e resiliência”, partilhou. Referiu, ainda, que houve muitos momentos em que foi desmotivada por outros, mas nunca aceitou “um ‘não’ como resposta”.

Sobre a representação de Portugal nos Jogos Olímpicos de 2024, Vanessa destaca o caráter pessoal da conquista: “mais do que representar Portugal representei-me a mim, porque devido ao meu esforço e a muitos anos de investimento cheguei lá”. Reconhece, no entanto, o apoio do país na fase final do processo, essencial para a concretização do objetivo.

A atleta também reflete sobre o impacto do breaking enquanto modalidade olímpica. “O break olímpico ou desportivo é totalmente diferente do cultural, mas espero que se motivem ambas as vertentes, porque há espaço para todos”, sublinha.

Numa área historicamente dominada por homens, Vanessa lembra os desafios enfrentados ao longo da carreira, como “diferenças de pagamentos” e “locais de competição com poucas condições”. Ainda assim, defende que “é nesses momentos sem apoio nenhum que as mulheres se devem fazer ouvir e recusar ser tratadas como menos profissionais do que são”.

Na sua trajetória, destaca dois momentos de viragem: a vitória na Red Bull BC One UK, uma das competições mais prestigiadas do cenário internacional, e a superação de uma grave lesão antes da qualificação olímpica. “Quando parti o cotovelo dois meses antes da minha primeira qualificação e ainda assim terminei em sétimo lugar no mundo, percebi que a mente é muito mais poderosa que o físico”, afirma Vanessa.

No final da oficina, deixou uma mensagem de motivação às jovens participantes: “nada vem fácil, mas se investirem tempo e trabalho, o resultado será super recompensador”. Finaliza, dizendo: “nunca deixem ninguém dizer que não, porque o ‘sim’ ou o ‘não’ depende da vossa própria experiência e não da opinião dos outros”.

A programação continuou durante a tarde. Às 15 horas, a sede da Associação Parretas Team acolheu uma conversa dedicada ao papel das mulheres no hip-hop, moderada pela jornalista Joana Amaral Cardoso (Público). A sessão juntou a rapper Máry M – uma das vencedoras da primeira edição do projeto europeu She Raps – e Mariana Duarte Silva, fundadora da Skoola VU e responsável pela representação da plataforma em Portugal. O debate focou-se no futuro profissional, nas oportunidades e nos desafios que as mulheres enfrentam neste universo, ainda marcado por desigualdades de género.

Já à noite, pelas 21h30, o antigo quartel dos Bombeiros Sapadores de Braga recebeu o aguardado concerto de Máry M. Com curadoria da She Raps, a atuação marcou a estreia da artista em Braga. Mariana Marques (nome próprio da rapper e socióloga lisboeta) apresentou um repertório que cruza afrobeat, dancehall e funk, refletindo as suas vivências enquanto mulher queer. Com passagens por palcos como o MEO Sudoeste e o Lisboa Mistura, a artista leva agora a sua música a novos públicos, numa digressão europeia impulsionada pela plataforma She Raps.