A adorada competição norte-americana RuPaul’s Drag Race voltou este janeiro, com novos convidados, surpresas, e um prémio final de 200 mil dólares. Após a temporada de sucesso que foi a penúltima, tanto a nível de audiências como de qualidade, a nova temporada tinha grandes expectativas a superar. Será que o conseguiu fazer?

A décima sétima temporada de Drag Race apresentou um cast divertido e com muita química, desde drag queens mais tradicionais, como Sam Star, até drag queens mais alternativas, como Lydia Butthole Kollins. Apesar do talento e dos momentos divertidos que este elenco foi capaz de proporcionar, nota-se a falta de experiência das queens

O programa tem selecionado cada vez mais competidoras mais novas. Lexi Love, a drag queen com mais idade da temporada, tem 34 anos. Torna-se evidente a diferença desta temporada para outras mais antigas na identidade e firmeza das competidoras – ainda estão em desenvolvimento e tal faz com que não haja claras estrelas capazes de carregar, já, o título ‘The Next Drag Superstar’. A falta de experiência não faz com que haja falta de talento, mas torna a decisão final incerta e arriscada. Queens novas mas aprimoradas como a vencedora da décima temporada, Aquaria, não são comuns.

Contudo, tal não impediu com que esta fosse uma temporada má ou aborrecida, pelo contrário. Como peça de entretenimento, a temporada dezassete de Drag Race ofereceu vários momentos e episódios memoráveis, assim como o décimo episódio “The Villains Roast”. Além do roast ter sido mais engraçado do que o usual, o programa trouxe de volta ex-vilãs icónicas, ao mesmo tempo que criou uma nova no mesmo episódio. Construiu uma narrativa envolvente e mostrando o porquê de twists como o Badonka dunk não serem desnecessários. A temporada passada fez questionar se estas segundas oportunidades se justificam, devido à falta de efeito da poção de imunidade, mas o Badonka dunk provou ser essencial e tornou-se numa das partes das mais engraçadas dos episódios. Desde o seu nome até à ânsia de ver ou não a Michelle Visage a cair num tanque, mostra como twists como estes são uma das razões pelas quais ver Drag Race é tão divertido.

A nova temporada, mais uma vez, põe em questão os critérios de avaliação da competição. São demasiado vagos e interpretativos, o que pode causar frustração devido à falta de clareza com o espectador. As infames palavras do RuPaul antes de um lipsync pela vida são “esta é a vossa última chance de me impressionar e salvarem-se a vocês mesmas de serem eliminadas”, o que realmente pode fazer com que o vencedor de um lipsync não se safe da eliminação. A prestação de uma queen pode ser superior à do seu adversário mas, se não mostrar algo bom o suficiente para justificar a permanência na competição, pode ser eliminada, o que explica a saída de Lana Ja’rae no episódio 12. Senão, RuPaul diria “ganha este lipsync e salva-te da eliminação”, o que, no entanto, continuaria a ser subjetivo, pois no final das contas, a opinião que importa é a de RuPaul.

 A competição chama-se RuPaul’s Drag Race por uma razão. As preferências do apresentador e juiz principal são as que carregam mais peso, portanto os resultados são naturalmente enviesados. Todavia, tal lógica não impede descontentamento por parte do espectador devido à ocorrência de decisões incoerentes e injustas. 

O episódio final foi deveras desapontante quer a torcida tenha estado pelo lado da vencedora ou não. A transferência da passagem de eventos de uma sala teatral para o simples e pequeno main stage diminui a importância e grandeza da final, além da diversão de ter uma plateia cheia a presenciar o momento. Muito provavelmente é uma direta consequência da prevenção da partilha de spoilers para o exterior: quanto menos gente e quão mais confiável forem as pessoas a presenciar o coroação, mais fácil é de controlar o que é partilhado. Mas francamente, os spoilers continuam a ser partilhados – mais do que nunca até. Portanto, se não tomarem prevenções realmente com efeitos, não vale a pena mudar a estrutura do programa.

Apesar de todos os pontos negativos da temporada, o novo conjunto de episódios de Drag Race proporcionou uma época televisiva eventiva e envolvente. Não alcançou o patamar de excelência das melhores temporadas do programa, mas continuou a demarcar-se como uma das séries mais cativantes da contemporaneidade e um bom escapismo para a comunidade LGBTQIA+.