Lançado a 25 de Abril de 2023, Lugar Feliz chegou ao mundo num dia comum – exceto em Portugal. Por cá, a data é sinónimo de liberdade, esperança e recomeços. Curiosamente, são também estas as palavras que definem a obra de Emily Henry, autora do clássico Romance de Verão (2022). Lugar Feliz convida a um reencontro connosco próprios antes de um reencontro com o outro.

Emily Henry Site

Harriet e Wyn eram o casal perfeito, até deixarem de o ser. Quando se reúnem com o seu grupo de sempre, no seu “Lugar Feliz” no Maine para uma última semana juntos antes da venda da casa de férias, escondem a separação. Fingem continuar apaixonados, numa farsa que revela verdades esquecidas e sentimentos adiados.

A autora recorre a descrições sensoriais e cenas cheias de subtilezas emocionais, com um toque de humor e ironia para disfarçar inseguranças – como muitas vezes fazemos na vida real. As paisagens costeiras de Maine, os jantares em grupo, os mergulhos no mar, os gestos que falam sem palavras – tudo é meticulosamente desenhado. Cada detalhe conta, mesmo quando parece invisível.

A escrita envolvente e delicada convida a saborear este trago de verão a qualquer altura do ano. Os capítulos alternam entre o presente e as memórias do passado, revelando a evolução do casal e das amizades. A estrutura reforça a tensão emocional, sem perder o ritmo. O romance não vive apenas da paixão, mas também da dor da perda, da aceitação e da tentativa de reencontro.

“Não tens o poder de dar felicidade a ninguém. Tens é de encontrar a tua”.

Além do enredo central, o livro oferece reflexões sobre saúde mental, expectativas sociais e as diferentes formas de amor. A relação entre os amigos é quase tão importante quanto a história do casal. São eles que moldam o espaço seguro onde os protagonistas se confrontam com o que foram e com o que ainda podem ser.

A questão de não querer desiludir aqueles que mais amamos, é um reforço interessante por parte de Emily Henry. O “casal” principal luta durante toda a obra para não ter de desagradar ou entristecer aqueles que são os seus melhores amigos. Mas essas pessoas não devem ser aquelas a quem podemos confiar vitórias e derrotas?

O crescimento e as mudanças da vida são de facto notórias no romance. Acompanhamos entre a transição “lugar feliz e “vida real” que guia os capítulos: um grupo de amigos na casa dos 30, que outrora foram jovens universitários a lutar por sonhos e expectativas. Esta sensação de que crescemos e mudamos, e connosco prioridades, gostos, objetivos e particularmente sonhos é retratada de forma sublime e particular pela autora. A forma de escrita dá ases a uma identificação por parte dos leitores, quase como se também nós mudássemos ao longo destas saborosas páginas.

“Pensa no teu lugar feliz. O que sentes? O sol, por todo o lado”.

No fim, Lugar Feliz sugere que este lugar é muito mais do que um espaço físico. É um estado emocional, construído com honestidade, afeto e pequenas escolhas diárias. A obra lembra que amar alguém também implica saber parar, ouvir, adaptar, e sobretudo, comunicar.

Para quem procura uma leitura leve, mas profunda, Lugar Feliz é uma excelente proposta. Um romance que aquece o coração sem cair no cliché fácil. Leva-nos para o cheiro a verão que se instala nos últimos dias de aulas ou trabalho, para as férias em família, comida, risos e sorrisos, a tristeza de voltar à realidade, mas sobretudo a felicidade de encontrar verão em cada estação.  Lembra-nos, com ternura, que a felicidade mora nos detalhes — e que vale a pena construí-la. Boas leituras!

“Tu estás em todos os meus lugares mais felizes. Tu és para onde vai a minha mente quando precisa de conforto”.