Melancólico Dançante, o novo álbum de Valter Lobo, entrelaça a poesia com o ritmo e assinala a evolução do artista português: desta vez, explora ritmos mais envolventes e novas sonoridades. No entanto, deixa muito a desejar em termos de profundidade emocional.
O álbum abre com “Ainda ontem tinha céu”, cujo som transporta o ouvinte para uma floresta em que corre descalço e despreocupado. A sua atmosfera única convida o ouvinte a embarcar numa viagem sensorial. Porém, a repetição constante tanto da letra como do ritmo deixa no ar a pergunta sobre a necessidade de a música ter quatro minutos de duração. A quantidade nem sempre se revela ser qualidade: neste caso, uma música mais compacta talvez acabasse por acrescentar mais.
“Cinema ou Real” é leve, ritmada, e relembra uma música de embalar. A voz do artista é suave, aliada a arranjos minimalistas. É uma faixa para ser ouvida no final de verão, sentindo a brisa quente carregada pela noite.
Marcada por acordes simples e repetitivos, “Aguarela” traz à tona um dos maiores problemas deste álbum: a dificuldade da voz do artista se destacar e ir além do instrumental. Valter Lobo parece quase à beira de dizer algo com significado, porém, fica-se por um quase não inteiramente conseguido.
No entanto, “Tão perto” carrega consigo a melodia mais bonita da obra, e a letra mais sentida. Com uma atmosfera mais íntima e emotiva, expressa um desejo profundo de conexão, mesmo que envolto em incertezas. Não obstante, o ouvinte tem a perceção de já a ter ouvido milhares de vezes: assemelha-se verdadeiramente a André Sardet.
“Havia fogo” revela influências brasileiras evidentes, o que traz uma sonoridade mais quente e dançante. Ao amor e desejo caraterizados pela letra falta-lhes, no entanto, calor real: não possui aquela qualidade palpável e viva de um romance a sério. Balança perigosamente na corda bamba da superficialidade.
“Bom te ver” apresenta uma melodia semelhante a faixas já apresentadas como “Cinema ou Real” ou, até, a “Tão perto”, o que revela o carácter repetitivo de um álbum que beneficiaria imenso de mais dinamismo e profundidade. No entanto, expressa o desejo de entrega completa ao outro e gratidão pela sua presença.
Já “Moleque” volta a revelar as influências brasileiras do artista, nesta vez na letra. A combinação de arranjos instrumentais é a maior força desta faixa que é, na sua grande maioria, bastante genérica.O instrumental de “Se é primavera” é agradável, combinando elementos acústicos com uma produção moderna. Explora as mudanças internas e externas que marcam a experiência humana na sua relação com o outro. Contudo, em termos líricos, falha miseravelmente na sua tentativa de sedução.
Ao contrário do que o título sugere e apesar de consideravelmente poético, Melancólico Dançante pouco tem de verdadeiramente melancólico, acabando por nem chegar a molhar os pés nas águas fundas do sofrimento.
Este álbum fica bastante aquém das expetativas: apesar de possuir apenas nove faixas, as melodias e as letras são morosamente repetitivas. A voz do artista não tem a capacidade de prender a atenção do ouvinte, e à melodia e ritmo falta-lhe dinâmica e inovação. A identidade musical de Valter Lobo não se destaca nem acrescenta nada de novo. Já as letras carecem de conteúdo e profundidade, e, no final, resta apenas a esperança por uma futura obra mais genuína, autêntica e trabalhada por parte do artista.
Artista: Valter Lobo
Álbum: Melancólico Dançante
Editora: Valter Lobo Unipessoal, Lda
Data de Lançamento: 28 de fevereiro de 2025