Três anos após o marcante Whole Lotta Red (2020), Playboi Carti regressa com MUSIC, um álbum que é mais manifesto sonoro do que simples coleção de faixas. Com 30 músicas e quase 80 minutos de duração, MUSIC não é um disco fácil — nem pretende ser. É intenso, estranho. É, sem dúvida, uma das propostas mais radicais que o hip-hop mainstream viu em tempos recentes.

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Carti continua a missão de desconstruir o rap como o conhecemos. As batidas são minimalistas ou absurdamente distorcidas. A voz do rapper, ora grave e rouca, ora esganiçada e quase caricatural, ecoa entre camadas de autotune e efeitos como se fosse mais um instrumento do que veículo de mensagem. E, na verdade, é isso mesmo: MUSIC é sobre atmosfera, sobre sensação — não sobre letras ou histórias.

As participações de Kendrick Lamar, Travis Scott, Lil Uzi Vert, entre outros, não são ali colocadas como estratégia de mercado: são extensões de um universo sonoro próprio. Por vezes, essas colaborações perdem-se no caos criativo de Carti, mas outras vezes resultam numa harmonia estranha, mas fascinante.

Liricamente, o álbum aborda temas como materialismo, hedonismo e uma sensação de niilismo, refletindo uma visão distorcida e fragmentada da realidade. A ausência de uma narrativa coesa e a estrutura dispersa do álbum conferem uma atmosfera de mixtape, o que pode ser interpretado tanto como uma expressão de liberdade artística quanto como uma falta de direção clara.

MUSIC é um álbum desconcertante e, por isso mesmo, revelador. Mostra um artista que se recusa a seguir fórmulas e que prefere ser incompreendido a previsível.

Não é um disco para todos e Playboi Carti sabe disso. Para quem se deixar levar pela experiência, MUSIC é uma viagem barulhenta e, no fundo, bela.