Uma partilha da luta feminista em três gerações distintas: o que muda e o muito que se mantém.
O Theatro Circo foi o placo de “Sai e Luta?” no passado dia 6 de maio. A interpretação da pergunta, proposta pela dramaturga Stela Mišković, tem por base uma história real que recolheu para a criação do texto apresentado, prestando homenagem a Maria Isabel Barreto, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta.
Estas mulheres contribuíram para a construção da democracia em Portugal e tornaram-se uma referência histórica do movimento feminista. A atuação iniciou com as três personagens a prepararem-se para entrar no palco, apresentado como um ringue. Cada uma das atrizes ficou sentada numa cadeira, em lados oposto do mesmo.
Depois dessa preparação, a execução artística iniciou com o relato de uma das personagens, sobre um estado de tristeza aparentemente injustificada. Após esta declamação, as atrizes prepararam-se para uma mudança de enredo e ocorreu um diálogo entre as duas mulheres, com o objetivo de serem madrinhas de guerra de algum soldado.
De seguida, surgiu a apresentação de um homem, marcando o inicio de uma nova história, que se junta a uma casa para ser professor de dança da filha da mulher que lá habita. Por último, vimos a terceira narrativa a formar-se entre uma jovem rapariga e um jovem da mesma idade.
Após a apresentação inicial destas três realidades distintas, a representação dramática alternou entre elas, adicionando em cada cena mais informação sobre a evolução destas realidades. Apesar de todas parecerem relações comuns no primeiro impacto, rapidamente observamos que se tornam cada vez mais violentas.
Para além da demostração teatral da violência crescente nestas relações, surgem também pequenos monólogos destas personagens que transmitiram ao espectador aquilo que elas sentiam naquele momento. As atuações mostraram também as diversas formas de lutar contra esta repressão que cada uma destas mulheres escolheu seguir e explica a sua razão. Enquanto que a primeira mulher não considerava válido o seu sofrimento, a segunda, apesar de ter feito queixa, não se viu apoiada por nenhum serviço social. A mulher mais jovem, partilha que uma queixa seria inútil e desnecessária. Espelharam assim, a forma a sociedade vê, ou não, as mulheres vítimas destes abusos, independentemente da sua geração.
Ao longo destas histórias ficamos a conhecer esta interpretação contemporânea dos textos e palavras das três Marias, adaptadas para momentos de repressão das mulheres ao longo de vários anos distintos. A peça terminou com uma canção cantada pelas três mulheres, “Cantar Alentejano” de Zeca Afonso, como forma de protesto pelas histórias que partilharam.
A exibição de “Sai e Luta?” ocorre enquadrada no projeto “Sexual Theatre – Feminist Readings of Classics”. A interpretação foi realizada por Inês Filipe, Inês Lago, David Salvado e Joana Maria. O objetivo é reinterpretar, sob uma perspetiva feminista, os clássicos literários dos quatro países europeus participantes: Bósnia e Herzegovina, Montenegro, França e Portugal.


